Europa alterizada: hotéis de luxo para os invasores

James Orr é professor associado de Filosofia da Religião na Universidade de Cambridge. Ele preside a Fundação Edmund Burke da Inglaterra, entidade de defesa dos princípios do nacional-conservadorismo nos países ocidentais eou democráticos.

Ele foi nomeado, recentemente, presidente da comissão consultiva de um novo grupo de reflexão em pró do reformismo britânico, o Centre for a Better Britain. Ele avalia que o Reform UK seja a única força política britânica com chance real de sucesso que “ainda acredita na nação”. Nosso companho Zoltán Kottász encontrou-se com James Orr na cidade húngara de Esztergom, durante a MCC Feszt de 2025. 

Numa recente entrevista dada à BBC, Vossia declarou que o Centre for a Better Britain movia-se “pelo impulso da ambiência do pós-Brexit, favorável à nação, à soberania, à Inglaterra”. Isso significa que os recentes governos britânicos não se moviam pelo impulso dessas mesmas causas?

Prof. James Orr: há no seio do Partido Conservador grupo que adora posar como os “One Nation Tories” (conservadores de uma só nação), uma evocação de Disraeli e seu Sybil. Mas eles não são conservadores de uma só nação; são, isto sim, conservadores sem nenhuma nação (e noção). Esse grupo não acredita mais na nação; eles acreditam nas estruturas supranacionais às quais querem subordinar nossa soberania.

O Partido Trabalhista, uma das lâminas da tesoura que arruinou a Inglaterra durante 25 anos, consta de uma clientela repartida em três classes: a classe formada pelo setor público, fiel ao erário; a classe do assim chamado “rainbow people”, ou seja, os hiperliberais progressistas da libido, que preconizam a política identitária das minorias; e há a classe do “Crescente”, o islamismo político, sempre mais ousado, que rejeita totalmente a soberania do Estado-nação. Nenhuma dessas classes é fiel à Inglaterra enquanto nação.

A razão de não ser possível salvar a Inglaterra sob o poder desse duopólio é que eles não reconhecem a Inglaterra, eles não amam a Inglaterra, eles renegam a Inglaterra, renegam a herança inglesa, a história inglesa, o povo inglês. O Reform UK, em contrapartida, resta como a única força política com chance de sucesso que ainda acredita na nação.

 

O que foi que aconteceu com os partidos conservadores tradicionais como os tories na Inglaterra e o CDU na Alemanha?

Prof. James Orr: a mim me parece que os partidos conservadores não sejam sempre capazes de mudar radicalmente sua visão e sua política, quando a realidade muda. No entanto, ao longo dos últimos 25 anos, deparamos desafios sem precedentes: o suicídio do saldo líquido zero de emissões, a loucura das políticas de energia, a imigração massiva fora de controle, a desintegração social e cultural. Os tories tentam recuperar sua credibilidade ante suas próprias elites. Eles se preocupam mais com sua boa recepção num elegante jantar de liberais no norte de Londres do que com serem aclamados num botequim em Wolverhampton.

Por isso é que alguém como Nigel Farage goza de tão boa reputação pública. Ele fica à vontade entre as pessoas comuns. Faz um ano, vivi momento maravilhoso numa importante partida de futebol disputada pela seleção inglesa. Keir Starmer não queria ser visto torcendo pela Inglaterra. Achava que isso não seria comportamento adequado para um primeiro-ministro britânico. Então, alguém da comitiva lhe disse para “pelo menos vestir camisa branca”. O conselho foi acatado ― a contragosto.

Essa imagem de homem “que não é gente nossa” importa muito na visão dos eleitores. Não se trata apenas de questão de imagem publicitária. Quando Nigel Farage veste a camisa da Inglaterra num botequim, em meio a dezenas de torcedores, todos sorrindo de orelha a orelha, isso faz ver que ele está em seu lugar.

Atualmente, há muita vitalidade intelectual à direita. Do lado esquerdo, porém, não há nenhuma energia intelectual. Desesperada, a esquerda lança mão dos recursos de que ainda dispõe em termos de influência, de poder estatal e midiático, tentando sustentar projeto fadado ao fracasso, que já afunda. Isso lembra a União Soviética dos anos oitentas, quando a troika tinha perdido contato com a realidade.

Outro incidente envolvendo Keir Starmer ocorreu quando ele retirou a papoula, símbolo da rendição alemã na I Guerra, do seu paletó, antes de discursar sobre o mês de conscientização da islamofobia. Na ocasião, por sua vez, os dirigentes alemães declararam que o islã era parte da Alemanha. Que mensagem tudo isso passa?

Prof. James Orr: os dirigentes alemães só podem pensar o islã como constitutivo da Alemanha, porque já não têm a mínima noção do que seja a identidade nacional alemã. Evidentemente, a rápida islamização da Alemanha está correta em termos de descrição demográfica. De fato, a Alemanha está em via de se tornar, em razão dessa islamização, um dos países mais antissemitas do mundo e certamente o mais antissemita da Europa. Uma ideologia fundada no projeto de apagar e inverter tudo o que foi a Alemanha nos anos trintas resultou exatamente nessa transformação.

Como pensa que seria um governo dirigido por Nigel Farage?

Prof. James Orr: primeiramente, ele acabaria com a catástrofe econômica do saldo líquido zero. Só isso já elevaria enormemente a produtividade do país.

Depois, ele atacaria o problema da imigração: sairia do Tribunal Europeu do Direitos Humanos, deixaria Strasbourg, escapando à jurisdição de tribunal estrangeiro. O Brexit tinha por objetivo resgatar nossa soberania, particularmente sobre nossas fronteiras.

No entanto, continuamos sob a jurisdição de um tribunal forâneo, que determina quem podemos ou não podemos acolher em nosso país, quem podemos ou não podemos expulsar, e por que razão. Um absurdo! Nós firmamos numerosos tratados que agora devemos denunciar. Nós devemos restaurar a soberania parlamentar: o Parlamento deve retomar o controle, e a Corte suprema deve ser dissolvida.

Em matéria de tributação e empresarismo, a Inglaterra é um dos países mais pesadamente tributados do mundo desenvolvido. Criar uma empresa custa caro e envolve muita complicação. O partido Reform UK deve, portanto, revisar profundamente a estrutura fiscal e a situação dos incentivos fiscais.

O governo atual não faz outra coisa senão deteriorar a condição do país. Isso reforçará o apoio ao Reform UK. E sempre que os tories se insinuarem novamente, todo o mundo vai se lembrar dos catorze anos do seu governo desastroso, o que também fortalecerá o Reform UK. Eu tenho certeza que, daqui até 2029, o Reform UK estará em condições de conseguir uma maioria eleitoral esmagadora.

O Reform UK não é o único partido nacional-conservador em plena ascensão na Europa: há o Rassemblement National, de Marine Le Pen, na França, como também, por exemplo, o Alternative für Deutschland (AfD) na Alemanha. Essas forças políticas estão na iminência de se tornarem dominantes?

Prof. James Orr: desde as ondas migratórias de 2013 a 2015, o empoderecimento dos partidos soberanistas e nacionalistas tem sido extraordinário. A única resistência que deparam é a do aparelho do Estado, da guerra jurídica, da espionagem, da demonização midiática. Apesar disso tudo, tem havido sucessos eleitorais incríveis, estando os eleitores cada vez mais frustrados com a quase nula influência de seu voto, que não tem correspondido à nenhuma responsabilidade democrática.

Ainda assim ou por isso mesmo, partidos como o Vox na Espanha, o Chega em Portugal, a Liga e o Irmãos da Itália, o AfD, o Rassemblement National, o Vlaams Belang [Interesse Flamengo] na Bélgica, Geert Wilders na Holanda, o Fidesz na Hungria ― todos estão ganhando terreno. O Reform UK representa essa mesma tendência. Eu penso que o futuro pertence à direita em toda a Europa. O caminho, porém, será doloroso. Haverá casos chocantes de tentativas de exclusão de políticos populares. Haverá declarações de inconstitucionalidade contra partidos ― como já sofre o AfD. Haverá ativismo judiciário ― como já sofre [a primeira-ministra italiana], [Giorgia] Meloni, desde que tentou mudar a política migratória, conforme prometera aos eleitores que, por isso mesmo, a elegeriam. Acredito que a direita acabará por se impor, que veremos uma virada radical para a direita nos próximos cinco ou dez anos. 

A migração é um dos principais temas abordados pelo Reform. O que os eleitores pensam dessa questão?

Prof. James Orr: a migração é hoje, e de longe, a questão mais importante para os eleitores britânicos. E se considerarmos as outras questões relacionadas a ela, veremos que todas são agravadas pela imigração massiva. É o caso, por exemplo, da saúde, da educação, da habitação. Nós importamos milhões de pessoas, mas poucas passam a trabalhar no sistema público de saúde, ao contrário do que sempre alegam os liberais para “justificar” a imigração massiva e descontrolada. Por outro lado, ― que “surpresa”! ― os migrantes também ficam doentes. Na verdade, os seus problemas de saúde costumam ser mais complexos que os dos etnobritânicos.

Quanto à educação, há vastas áreas em Londres onde as crianças nativas não podem estudar, porque lá, simplesmente, o inglês não é mais falado. Nesses lugares, em havendo crianças etnobritânicas, elas aprendem a detestar o seu país, a odiar sua herança cultural e a ter vergonha de tudo quanto os seus pais admiravam no passado.

Todo o país fica angustiado com a imigração. O Times começou a publicar os números desproporcionais sobre as agressões sexuais cometidas por estrangeiros, por migrantes. As estatísticas são, absolutamente, assombrosas. E, depois, há as gangues de proxenetas, há os estupros coletivos de meninas inglesas por violadores estrangeiros vindos de culturas moralmente atrasadas. Durante décadas, recebemos e hospedamos esses agressores e bandidos.

Os ingleses estão furiosos. A raiva nessa situação não vem da direita ou da esquerda. Vem de uma reação humana. O partido da reforma é a única força política que já se mostrou disposto a agir seriamente contra tudo isso.

A longo prazo, qual é o efeito da imigração na sociedade?

Prof. James Orr: a imigração nos impede de utilizar o pronome da primeira pessoa do plural. Fica impossível dizer “Nós, o povo”. Eu não tenho nada em comum com os violadores de Oxford, de Totherham, de Telford. Eu não quero nada com eles. Eu quero que eles sumam deste país o mais rápido possível. Eles não são ingleses, eles não são britânicos, eles não têm nenhum direito de pertencer à nossa família nacional. E, no entanto, os liberais me obrigam a fingir que eles sejam tão britânicos quanto eu. Não, quando pronuncio a palavra “Nós”, eu não penso nesse tipo de gente. Tampouco penso nas centenas de migrantes que todo dia desembarcam nas praias de Dôver e que, como por magia, conseguem passaporte daí a cinco ou dez anos. Esse tipo de empatia que nos forçam a sentir por todos os povos, exceto o nosso próprio povo, é tóxico, é antinatural. Eis aí um modo de pensar totalmente estranho para nós. Nenhuma civilização jamais convidou invasores, nunca os hospedou em hotéis de luxo e lhes deu todo o dinheiro que poderiam desejar.

 E qual efeito terá a outra crise ― a guerra, na Europa?

Prof. James Orr: Vossoria se refere ao conflito eslávico entre a Rússia e a Ucrânia?

Vossia não pensa que se trate de uma guerra?

Prof. James Orr: eu não chamaria aquilo de “a” guerra. Antes se trata de um conflito que se desenvolve no mundo e que não me interessa muito.

Não obstante, aquele é conflito que se desenvolve bem perto de nossas fronteiras. Não passamos por nada disso desde a Iugoslávia dos anos noventas. Isso leva as nações da Europa à corrida das armas.

Prof. James Orr: se a Inglaterra estivesse em melhor situação, talvez os políticos pudessem se preocupar mais com Kieve do que com Kent. Por enquanto, eu me preocupo com Kent. Nós não somos nem capazes de proteger Kent contra os invasores ilegais ― por que, então, deveríamos nos preocupar com Kieve? Vamos primeiro resolver os problemas de Kent e, depois, poderíamos tratar de Kieve.

Ninguém duvida que [o presidente russo] Putin seja perigoso, malevolente, mas ele não é louco. Putin não é irracional. Nós achamos que ele seja Hitler, que a Ucrânia seja a Polônia e Kieve seja Varsóvia e nós aderimos, então, à teoria do dominó. Esta teoria reza que, depois de tomar a Ucrânia, ele atacará os países bálticos e, a seguir, atacará a Polônia. Essas premissas levam à conclusão de que deveríamos partir para o rearmamento. A meu ver, tudo isso é, simplesmente, uma loucura. Putin não cometeria a insanidade de ignorar o artigo 5.o e partir para a guerra contra a Otan.

Há toda sorte de razões pelas quais a Rússia tem os olhos postos sobre a Ucrânia. A expansão contínua da Otan desde 1991 foi provocação. A Otan é aliança militar que só passou a existir por uma razão: defender a Europa ocidental contra o Pacto de Varsóvia. O Pacto de Varsóvia se dissolveu, mas não a Otan. E quando a Rússia deu lembrança disso ao Ocidente, James Baker respondeu, em 1991, que a Otan não se deslocaria “nem um dedo” para leste. Apesar da bonita promessa, sabemos que os anos noventas testemunharam avanço da Otan na direção oriental de bem mais do que “um dedo”. E a expansão otaniana continua.

Isso não justifica as ações de Putin. Por outro lado, está ficando claro não ser verossímil que a invasão da Ucrânia prenuncie a invasão do restante da Europa. Não por essa bobagem, pois, deveríamos todos nos unir para a “guerra”.

Considero como dever mais fundamental de qualquer país o ser capaz de autodefesa. Não importa se liberal, marxista ou de extrema direita, o contrato social tem na segurança o seu elemento primacial. Ocorre, porém, que nós investimos muito pouco em defesa. Agora, depois de oitenta anos, os Estados Unidos fazem bem ao advertirem a Europa de que deve crescer e voar pelas próprias asas. Já é hora de começar a ganhar algum dinheiro e conquistar certa independência. O conflito entre a Rússia e a Ucrânia teve o efeito positivo de fazer ver à Europa que não pode mais seguir contando sempre com o tio Sam.

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Fonte: Breizh-info | Autoria: James Orr | Título original: Professeur James Orr: “Aucune civilisation n’a jamais invité des envahisseurs et les a logés dans des hôtels quatre étoiles”. | Data de publicação: 17 de agosto de 2025 | Versão brasilesa: Chauke Stephan Filho.

 

 

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