Tontos podem sempre ficar mais tontos

Há alguns dias, foi em 8 de dezembro, o diário The Washington Post publicou artigo com o título “Why doesn’t Argentina have more black players in the World Cup?”, ou seja, “Por que a Argentina não tem mais jogadores pretos na Copa do Mundo?”. A autora é uma tal de Erika Denise Edwards, professora na Universidade do Texas, câmpus de El Paso.

Só pelo título do texto já se pode notar duas coisas. Primeira: a confirmação do que diz a letra do tango Cambalache: “qualquer um é doutor, qualquer um é senhor”. Segunda: a ignorância dos ianques a nosso respeito: eles não sabem nada sobre nós.

A autora, uma tonta, adjetivo que fica perfeito nela, não se inteirou de que, na Argentina, a lei do ventre livre data de 1813. Isto se deu, pois, 150 anos antes da aprovação de lei semelhante nos Estados Unidos. Ela não sabe que os pretos se mesclaram com os brancos, não sabe que dessa mescla surgiram os “morochos”. Esse tipo de simbiose foi tão notória que ainda se recitam nas áreas rurais os versos seguintes:

La desgracia de los negros no es tener la piel oscura

La desgracia de los negros es que quieren a las rubias.

A tal professora ignora que “Negro” é palabra afável na Argentina. Aqui os amigos podem se tratar de “negros”, como quando dizem “Está fazendo o quê, negro?” ou “Como vai, negro?”. Existe também a expressão “Negro de merda”, é verdade, mas os liberais é que se expressam dessa maneira e o fazem por referência ao povo peronista. Antigamente, esses liberastas chamavam os peronistas de “cabecitas negras”.

Na Argentina, não existe o problema racial que carcome as entranhas dos Estados Unidos. Se fôssemos acreditar no que vemos nos filmes americanos, seríamos levados a pensar que a população dos Estados Unidos tem a pele escura. A realidade é bem outra. Os negros lá não se caldearam com os brancos. O famoso melting pot não deu em nada. A teoria do crisol das raças não se confirmou. O tal cadinho não fundiu nada e acabou derretendo.

Por isso é que os antropólogos sociais de lá lançaram a teoria do multiculturalismo. Segundo esta, o povo não se pode conceber como uma grande maioria, mas sim como muitas pequenas minorias. Segue daí a política de transfusão racial que vai substituindo a antiga maioria dos brancos anglo-saxões protestantes por negros, hispânicos, italianos, irlandeses, árabes… Minorias e subminorias e minorias de subminorias sexuais também são promovidas (novas letras estão sempre sendo somadas ao legebetário: LGBTQIJX2…). Também minorias cosmológicas são muito bem recepcionadas no espírito da diversidade. Este é o caso, por exemplo, dos terraplanistas.

Nós formamos uma sociedade aberta, livre e contraditória. Vivemos suportando uma inflação anual de 100%. Nosso país tem a segunda maior planície cultivável do mundo, mas os pobres são metade da nossa população. Os recursos pesqueiros do nosso litoral estão entre os mais ricos do planeta. Evidentemente, temos também os governantes corruptos mais aladroados de todo o mundo. Além disso, sabemos que esses bandidos nunca verão o Sol nascer quadrado. Os negros não estão entre os nossos problemas. Nossas contradições são de outra ordem, que não envolve o conflito racial, felizmente.

De qualquer modo, há que reconhecer o interesse e a gravidade da temática racial. Aliás, eu quero fazer uma sugestão àquela tonta do The Washington Post. Proponho que ainda antes do fim da Copa do Mundo, se der tempo, ela publique um outro artigo de denúncia sobre a questão da discriminação racial, mas de perspectiva inversa. O título do libelo acusatório poderia ser este: “Por que a seleção do Congo não tem jogadores brancos?”.

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Fonte: BUELA, Alberto. Artículo breve [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por <chauke.filho@yandex.com> em 13 dez. 2022. Autor: Alberto Buela (um arkegueta, aprendiz constante). Título original: Siempre se puede ser un poco más tonto. Telecorreio do autor: buela.alberto@gmail.com. Versão brasilesa: Chauke Stephan Filho.

1 reply
  1. eduardo katsiyannis
    eduardo katsiyannis says:

    The only racist are Jewish who consider themselves the only humans and the rest of us mere animals

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