Ucrânia: a instável aliança de nacionalistas com oligarcas judeus
A principal versão da mídia ocidental sobre a situação na Ucrânia “informa” que o “povo ucraniano” libertou-se do malvado e corrupto governo de [Víktor Fédorovych] Yanukóvytch. A participação de nacionalistas na derrubada do governo e a presença deles no novo governo têm sido minimizada. Organizações judaicas e escritores judeus “garantiram” ao The NY Times que não era verdade o que Putin dizia sobre o “incipiente fascismo e o antissemitismo” do novo governo. Eles asseveram que as denúncias de Putin não passam de desavergonhada manobra para dissimular a agressão russa.
O que aconteceu com a inveterada fobia que liberais e judeus sentem por gente branca e nacionalista, como aquela que, por exemplo, cumpriu papel tão proeminente na Revolução da Praça Maidan?
Contestando tudo isso, o LA Times publicou na sua página de opinião artigo de um acadêmico liberal dos mais convencionais, Robert English, diretor da Escola de Relações Internacionais da Universidade do Sul da Califórnia (Ukraine’s threat from within: Neofascists are as much a menace to Ukraine as Putin’s actions in Crimea) [Ucrânia: a ameaça interna: neofascistas são mais perigosos do que Putin na Crimeia]. A proposição básica do Prof. English é que a participação decisiva dos nacionalistas ucranianos no novo governo infunde justificado medo nos etnorrusos da Ucrânia.
A moda agora é falar que o presidente russo, Vladimir Putin, é um paranoico sem contato com a realidade. Mas a denúncia dele contra os “radicais neofascistas” que derrubaram o governo anterior ucraniano e que agora estão nas fileiras do novo governo é digna de crédito. O empoderecimento dos extremistas nacionalistas da Ucrânia não representa ameaça menor para o futuro do país do que as manobras de Putin na Crimeia. Essa gente odienta tem uma ideologia repugnante.
Veja-se o caso do partido Svoboda, que conquistou cinco posições importantes no novo governo, incluindo os cargos de primeiro-ministro, ministro da Defesa e procurador-geral. O Svoboda bate-se pela abolição do estatuto autonômico que protege os russos na Crimeia. Isso inclui degradar o status da língua russa pelo voto no parlamento. Para os milhões de russos étnicos, essas são provocações odiosas e superlativamente estúpidas, em se tratando das medidas iniciais do novo governo no país dividido.
Esses movimentos, mais do que a propaganda russa, suscitam grande inquietação na Crimeia. […]
O Svoboda, o Setor da Direita e outras organizações da extrema-direita […] compõem-se de legiões de jovens abandidados que exibem símbolos alusivos à suástica. Seus chefes exaltam muitos aspectos do Nazismo e prestam culto à figura de Stepan Bandera, o capitão dos nacionalistas ucranianos na Segunda Guerra Mundial, cujas tropas colaboraram com Hitler e massacraram milhares de poloneses e judeus.
Essa coonestação do passado assusta, mas os planos desses partidos para o futuro assustam ainda mais. Eles defendem abertamente que o ensino da língua russa nas escolas seja proibido, que o direito à cidadania só se reconheça àqueles aprovados em exame de língua e cultura ucranianas, que apenas os ucranianos possam adotar órfãos e que os passaportes identifiquem a etnia de seus titulares: ucraniana, polonesa, russa, judaica ou qualquer outra.
Vemos novamente aí a natureza perversa de muitos nacionalismos europeus. Tom Sunic vinha nos advertindo reiteradamente sobre isso. Os movimentos antirrussos estão especialmente equivocados, dada a enorme superioridade militar russa e o caráter inaceitável, aos olhos da Rússia, da adesão da Ucrânia à OTAN e à União Europeia. Certamente a lembrança do genocídio no período soviético mantém-se muito viva na memória dos nacionalistas ucranianos — o que se compreende, embora os russos possam argumentar que não eram eles os detentores do poder no governo soviético aquando do genocídio, e que os próprios etnorrussos estiveram entre as primeiras vítimas do regime soviético; além disso, como observa Andrew Joyce, os nacionalistas ucranianos sabem muito bem da histórica opressão econômica judaica e do envolvimento judaico no genocídio ucraniano dos anos trintas.
Apesar de todo esse nhenhenhém, o nacionalismo ucraniano, se fosse racional, combateria pela partição do país segundo linhas étnicas, em vez de reclamar soberania em áreas como a Crimeia, atualmente região habitada majoritariamente por etnorrussos; evidentemente os russos não iriam querer fazer parte da União Europeia, que se bate pela dissolução de todas as identidades nacionais.
Continua o Prof. English:
Será tão difícil entender a perplexidade dos russos à vista dos oficiais americanos (como o Sen. John McCain e a subsecretária de Estado, Victoria Nuland) que flertam com extremistas denunciados por antissemitismo, xenofobia e até mesmo neonazismo por numerosas organizações de defesa dos direitos humanos? Eles batem autofotos e distribuem pastéis entre os chefes dos protestos, cujos bangalafumengas distribuem nesse mesmo momento, em plena Praça da Independência, exemplares de Os protocolos dos sábios de Sião: isso não deveria chocar? Se nalguma rara situação alguém mostra preocupação com esses extremistas, o problema é logo minimizado com o chavão de que “Sim, o governo não é perfeito, mas logo os moderados prevalecerão”.
Aparentemente os neoconservadores tais quais McCain e Nuland (bem como a elite ocidental de forma geral) veem a presença dos nacionalistas ucranianos como problema superável, a julgar pela hostilidade deles para com todo nacionalismo (à exceção do nacionalismo judeu em Israel). É claro que eles devem ter se equivocado nesse particular e acabaram abocanhando mais do que podem engolir. Israel Shamir descreve os eventos como “Revolução Parda”. Segundo ele, a Ucrânia “foi tomada por uma coalizão de ucranianos ultranacionalistas e oligarcas judeus (principalmente)”, que enriqueceram pilhando a Ucrânia: “Durante anos, os oligarcas despojaram a Ucrânia, remetendo para bancos ocidentais toda a riqueza que extraíam, o que levou a Ucrânia até a beira do abismo”.
Essa coalizão de nacionalistas com oligarcas parasitários, principalmente judeus, é instável, para dizer o mínimo. O Prof. English erra ao escrever como se os nacionalistas tivessem logrado seus objetivos, sem nunca mencionar que forças muito poderosas alinharam-se contra eles. Durante mais de um século, o principal vetor da rica e poderosa diáspora judia tem estado voltado contra os nacionalismos majoritários locais — daí o forte apoio judeu à União Europeia e às forças imigrantistas de desterritorialização da raça branca nos EE.UU. e por todo o Ocidente.
Em última análise, a Ucrânia não será exceção. Eu prognostico que os oligarcas, principalmente os judeus, e seus aliados ocidentais farão de tudo para marginalizar os nacionalistas e fortalecer suas ligações com o Ocidente. Essa conjugação de forças pró-ocidentais é realmente muito poderosa.
O Prof. English aponta as consequências para os etnorrussos nas antigas repúblicas soviéticas:
Mas a preocupação russa é justificável. Desde o colapso da União Soviética, milhões de etnorrussos ou falantes do russo tiveram cassada sua cidadania nas repúblicas bálticas (onde muitos viveram por gerações). Eles perderam seus empregos e suas casas na Ásia Central. E têm sofrido virulenta discriminação na Geórgia (causa principal da guerra de 2008 com a Rússia, também largamente ignorada no Ocidente).
Tal resultado é lamentável pelos russos desterrados, mas essas situações foram grandemente compensadas pela criação de Estados etnicamente homogêneos nas regiões da antiga União Soviética e alhures na Europa. Como observei em outro trabalho,
ao longo dos últimos 150 anos, a tendência geral na Europa e alhures tem sido a criação de Estados com base na etnia, ou seja, etnoestados. Essa tendência não terminou com o fim da II Guerra Mundial. Na Europa, a Guerra fez-se acompanhar do desterramento e reassentamento de povos — principalmente os alemães — para a criação de Estados etnicamente homogêneos. De fato, o maximante da homogenização na Europa ocorreu nas duas primeiras gerações que se seguiram à II Guerra Mundial.
[O Prof. Jerry Z.] Muller escreve:
Como resultado desse massivo processo de apartismo étnico, o ideal etnonacionalista foi largamente realizado: na maioria dos casos, cada nação europeia tinha o seu próprio Estado, e cada Estado compunha-se quase exclusivamente de uma só nacionalidade étnica. Durante a Guerra Fria, essa regra tinha poucas exceções: a Checoslováquia, a URSS e a Iugoslávia. Mas o destino desses países demonstrou a presente vitalidade do etnonacionalismo.
Essa questão é essencial. Com a recente expansão do império da União Europeia, expandiu-se também a retórica apologética de uma nova idade “pós-nacional”. A essa fase, entretanto, seguiu-se a pasmosa multiplicação de etnoestados por sobre os escombros da Iugoslávia, da antiga URSS e da Checoslováquia (cf.The utter normality of ethnonationalism — except for whites. In: VDARE).
Isso que se passa na Ucrânia é exatamente esse processo de desintegração de um Estado etnicamente heterogêneo para a formação de Estados etnicamente homogêneos. Esse seguimento tem o endosso das forças armadas russas e foi desencadeado pela agressiva intromissão de governos e ongues ocidentais na política ucraniana. Nem os neoconservadores nem a União Europeia desejam a clivagem étnica, mas esse é um desejo que pode não prevalecer, dado que Putin está disposto a garantir os legítimos interesses russos manu militari.
Do ponto de vista de um etnonacionalista universal, como sou eu mesmo, a melhor solução possível seria a divisão da Ucrânia entre russos e nacionalistas ucranianos, segundo as áreas agora sob controle de uns e outros. Se isso acontecesse, os neoconservadores ficariam furiosos. Culpariam Obama e outros governos ocidentais por não terem sido ainda mais agressivos.
Mas a divisão da Ucrânia separando as regiões russa e ucraniana não teria nada de extraordinário, não seria diferente da partilha da Iugoslávia ou da Checoslováquia. O problema é que as oligarquias ocidentais, sempre ansiosas para prejudicar a Rússia, insistem na narrativa da divisão como completamente ilegítima.
O Prof. English, como o liberal convencional que é, aconselha que, em último caso, os Estados Unidos devam se opor fortemente aos nacionalistas:
Por que não deveríamos aliviar os russos de seus [justificados] medos, denunciando energicamente os etnonacionalistas, abraçando os direitos minoritários como vitais para a estável democracia ucraniana que buscamos promover? Dada a nossa própria hipocrisia — não violar acordos (exceto aquele de não expandir a OTAN para o leste), não invadir países sob belos pretextos (exceto o Iraque) e não apoiar movimentos de minorias separatistas (exceto no Kosovo) — por que não iríamos querer restaurar a credibilidade dos Estados Unidos, atuando de acordo com os nossos princípios neste crítico caso? Em 2012, o parlamento europeu condenou o racismo, o antissemitismo e a xenofobia do Svoboda em nome dos “valores e princípios fundamentais da UE”. Os EUA devem fazer a mesma coisa agora, sem hesitação. Isso não é só a coisa certa a fazer, isso abriria uma porta para o entendimento com a Rússia sobre essa perigosa crise. Nossa omissão estimula os extremistas dos dois lados.
O Prof. English está de parabéns pela sua resumida lista das hipocrisias ocidentais. Com efeito, por que o apoio a uma Crimeia etnicamente homogênea seria diferente do apoio a um Kosovo etnicamente homogêneo?
Mas ele não precisa ficar preocupado. Evidentemente os EUA não querem realmente a vitória dos nacionalistas ucranianos e moverão céus e terra para derrotá-los, se eventualmente eles consolidarem seu poder no governo. Mas, por enquanto, as oligarquias do Ocidente deleitam-se com a propaganda enganosa da revolução, atribuindo-a aos amantes da liberdade na Ucrânia, ansiosos para pertencer ao melhor dos mundos, o mundo da União Europeia.
Em última análise, a longa campanha ocidental para desestabilizar a Ucrânia por meio do apoio às elites pró-ocidentais é violenta afronta aos legítimos interesses nacionais e étnicos da Rússia. Putin já traçou a sua linha vermelha e pode deslocá-la para abarcar a região leste da Ucrânia, o que aumentaria o perigo para todo o mundo. As oligarquias ocidentais não podem culpar os outros por isso, porque a culpa é delas.
Fonte: The Occidental Observer. Autor: Kevin MacDonald. Título original: The Unstable Alliance of Nationalists and “Mainly Jewish Oligarchs” in the Ukraine. Data de publicação: 13 de março de 2014. Versão brasilesa: Chauke Stephan Filho.