A Reconquista: germanos contra berberes

By José António Primo de Rivera

Na prisão de Alicante, três meses antes de ser assassinado, José António escreve um dos textos literariamente mais belos e historicamente mais profundos sobre a base etnocultural da Espanha. Intitula-se “Germanos contra berberes” e parece ter sido escrito ainda ontem. Confira:

O que foi a Reconquista? Um conceito superficial da História tende a considerar a Espanha como uma espécie de cenário ou passarela permanente por onde desfilam invasores que nos são apresentados no pressuposto de que devamos emprestar a nossa solidariedade ao elemento aborígine. Dominação fenícia, cartaginesa, romana, goda, africana… Desde a nossa infância temos presenciado mentalmente todas essas conquistas como sujeitos pacientes; isto é, enquanto membros do povo invadido. Nenhum de nós, em sua infância romanesca, deixou de se sentir como o sucessor de Viriato, de Sertório, dos numantinos [sorianos]. O invasor era sempre nosso inimigo; o invadido, sempre nosso compatriota.

Considerado tudo, depois, e com mais vagar, já no despontar da maturidade, caíamos num estado de perplexidade: afinal — perguntávamos — a nossa cultura e, mais do que isso, o nosso sangue, as nossas entranhas têm mais em comum com o celtibero aborígine do que com o romano civilizado? Ou seja, não teríamos o perfeito direito, ainda que por foro de sangue, de ver a terra espanhola com olhos de invasor romano, de considerar com orgulho esta terra não como remoto berço de nossos antepassados, mas como solo incorporado pelos nossos a uma nova forma de cultura e de existência? Quem pode dizer que haja mais sangue nosso, mais valores de nossa cultura no interior das muralhas de Numância do que nos acampamentos dos sitiadores?

Talvez possamos, aqueles de nós que procedemos de famílias que viram nascer muitas de suas gerações na América hispânica, compreender melhor tudo isso. Nossos antepassados transatlânticos sentiram-se americanos, assim como se sentem americanos os nossos atuais parentes de lá, da mesma forma como nós nos sentimos espanhóis; eles sabem, porém, que sua qualidade de americanos lhes é dada por sua condição de descendentes daqueles que deram à América a sua forma presente. Sentem a América como entranhadamente sua, porque seus antepassados a ganharam. Aqueles antepassados procediam de outro solar, que já é, para esses seus descendentes, mais ou menos estrangeiro. Em contrapartida, a terra onde vivem atualmente, séculos atrás estrangeira, é agora sua, incorporada como foi, e de forma definitiva, por alguns remotos avós, ao destino vital de sua estirpe.

Esses dois pontos de vista baseiam-se nas duas maneiras de entender a pátria: pela razão da terra ou pela razão do destino. Para alguns, a pátria é o assento físico do berço; toda tradição é uma tradição espacial, geográfica. Para outros, a pátria é a tradição física de um destino; a tradição, assim entendida, é predominantemente temporal, histórica.

Depois dessa prévia delimitação de conceitos, cabe voltar à questão inicial: o que foi a Reconquista? Já se sabe: de um ponto de vista infantil, tratou-se da lenta retomada da terra espanhola pelos espanhóis na luta contra os mouros que a haviam invadido. Mas a coisa não foi bem assim. Em primeiro lugar, os mouros (é mais exato chamá-los de “mouros” do que de “árabes”; a maior parte dos invasores procedia do Norte da África, eram berberes; os árabes, raça muito superior, formavam somente a minoria dirigente) ocuparam a quase totalidade da península em pouco tempo, mas o suficiente para a tomada da posse material, sem luta. Desde Guadalete (ano 711) até Covadonga (718), a História não fala de nenhuma batalha entre os forasteiros e os indígenas. Até o reino de Teodomiro, na Múrcia, resultou de mancomunagem com os mouros. Toda a imensa Espanha foi ocupada em paz. A Espanha e, naturalmente, os espanhóis que a habitavam. Aqueles que retrocederam para as Astúrias eram os remanescentes dos dignitários e militares godos; ou seja, eram os que, três séculos antes, haviam sido, por sua vez, considerados os invasores. O grosso da população indígena (celtibérica, semítica em grande parte, norte-africana por afinidade, toda essa massa mais ou menos romanizada) era tão alheia aos godos como aos agarenos recém-chegados. E mais: sentia muito mais razões de simpatia étnica e consuetudinária com os vizinhos do outro lado do estreito do que com os loiros danubianos aparecidos três séculos antes. É provável que a população espanhola se sentisse mais à vontade governada pelos mouros do que dominada pelos germanos. Isso no começo da Reconquista; no final, nem é preciso falar. Depois de 600, de 700, de quase (em algumas regiões) 800 anos de convivência, a fusão de sangue e costumes entre os aborígenes e os berberes era indestrutível; a interpenetração entre indígenas e godos, ao contrário, entorpecida durante 200 anos pelo dualismo jurídico e, no fundo, recusada sempre pela sensibilidade racial dos germânicos, não deixou nunca de ser superficial.

A Reconquista não é, pois, uma empresa popular espanhola contra uma invasão estrangeira; é, na realidade, uma nova conquista germânica; uma pugna multissecular pelo poder militar e político entre a minoria semítica de uma grande raça — os árabes — e a minoria ariana de outra grande raça — os godos. Nessa pugna tomam parte os berberes e os aborígines, às vezes como componentes da tropa e, às vezes, como súditos resignados de um ou outro dos dominadores, talvez com marcada preferência, ao menos em grande parte do território, pelos sarracenos.

A Reconquista foi uma guerra entre partidos e não uma guerra de independência, tanto que ninguém nunca chamou de “os espanhóis” os que combatiam contra os agarenos, mas sim de “os cristãos”, por oposição a “os mouros”. A Reconquista foi uma disputa bélica pelo poder político e militar entre dois povos dominadores, polarizada em torno de uma pugna religiosa.

Do lado cristão, os chefes proeminentes são todos de sangue godo. Pelágio foi carregado sobre um pavês em Covadonga como o continuador da Monarquia sepultada às margens do Guadalete. Os capitães dos primeiros núcleos cristãos têm o ar inequívoco de príncipes de sangue e mentalidade germânicos. Mais: sentem-se ligados desde o princípio à grande comunidade católico-germânica europeia. Quando Afonso o Sábio aspira ao trono imperial, não adota nenhuma atitude extravagante: pleiteia, com a alegação da maturidade política de seu reino, o que se alentava desde séculos antes na consciência de príncipe cristogermânico de cada chefe dos Estados reconquistadores. A Reconquista é empresa europeia — ou seja, germânica, naquele contexto. Muitas vezes, acorrem para guerrear contra os mouros senhores livres da França e da Alemanha. Os reinos que se formam têm uma base germânica inegável. Talvez não haja na Europa Estados mais fortemente marcados com o selo europeu da germanidade do que o condado de Barcelona e o reino de Leão.

Em síntese — abstração feita dos aportes e influências recíprocas de todos os elementos étnicos na interação de oitocentos anos — a Monarquia triunfante dos Reis Católicos é a restauração da Monarquia gótico-espanhola, católico-europeia, destronada no século VIII. A mentalidade popular de então dificilmente distinguia entre a nação e o rei. Além disso, consideráveis extensões da Espanha, particularmente as Astúrias, Leão e o Norte de Castela, haviam sido germanizadas, quase sem solução de continuidade, durante mil anos (desde princípios do século V até fim do século XV, sem outra interrupção que a dos anos entre Guadalete e a recuperação das terras do Norte pelos chefes godo-cristãos) e ainda sua afinidade étnica com o Norte da África era muito menor do que a das gentes do Sul e do Levante. A unidade nacional sob os Reis Católicos é, pois, a edificação do Estado unitário espanhol de sentido europeu, católico, germânico, de toda a Reconquista. E a culminação da obra de germanização social e econômica da Espanha, o que não deve ser esquecido, porque talvez aí a constante berbere terá encontrado a oportunidade de sua primeira rebelião.

Com efeito, o tipo de dominação árabe era predominantemente político e militar. Os árabes tinham fraco sentido de territorialidade. Não se adonavam das terras, num sentido jurídico privado. Assim, pois, a população camponesa das comarcas mais largamente dominadas pelos árabes (a Andaluzia, o Levante) permanecia numa situação de livre gozo da terra, na forma da pequena propriedade e, eventualmente, de propriedades coletivas. O andaluz aborígine, semiberbere, e a população berbere que formou mais copiosamente nas fileiras árabes gozavam de uma paz elemental e livre, inepta para grandes empresas de cultura, mas deliciosa para um povo indolente, imaginativo e melancólico como o andaluz. Os cristãos, germânicos, ao contrário, traziam no sangue o sentido feudal da propriedade. Quando conquistavam as terras, estabeleciam nelas senhorios, não puramente político-militares como os dos árabes, mas patrimoniais ao mesmo tempo que políticos. O camponês passava, no melhor dos casos, a ser vassalo; tempos depois, quando pela atenuação do aspecto jurisdicional, político, os senhorios tiveram fortalecido o seu caráter patrimonial, os vassalos, completamente desarraigados, caem na condição terrível de jornaleiros.

A organização germânica, de tipo aristocrático, hierárquico, era, na sua base, muito mais dura. Para justificar tal dureza, se comprometia a realizar alguma grande tarefa histórica. Era, na realidade, a dominação política e econômica sobre um povo quase primitivo. Toda aquela enorme armadura: a Monarquia, a Igreja, a aristocracia, podia intentar a justificação de seus pesados privilégios a título de cumpridora de grande destino na História. E isso foi tentado por duplo caminho: a conquista da América e a Contrarreforma.

É um tópico (posto em circulação pela literatura berbérica de que se falará mais tarde) o dizer que a conquista de América é obra da espontaneidade popular espanhola, realizada quase a despeito da Espanha oficial. Não se pode levar essa tese a sério. Muitas das expedições foram organizadas, certamente, como empresa privada; mas o sentido da cristianização e colonização da América está contido no monumento das Leis das Índias, obra que encerra um pensamento constante do Estado espanhol ao longo de vicissitudes seculares. E a conquista da América é também uma tese católico-germânica. Tem um sentido de universalidade sem a menor raiz celtibérica e berbérica. Só Roma e a Cristandade germânica puderam transmitir à Espanha a vocação expansiva, católica, da conquista da América. O que se chama de o espírito aventureiro espanhol será mesmo espanhol no sentido de aborígine ou berbere, ou será uma das marcas do sangue germânico? Não deve ser desprezado o dado de que, ainda em nossos dias, as regiões de onde sai o maior número de emigrantes, ou seja, de aventureiros, são as do Norte, as mais germanizadas, as mais europeias, as que, de um ponto de vista castiço e pitoresco, podem ser chamadas de as menos espanholas. Em contrapartida, é abundantíssimo o número de andaluzes e levantinos que se transplantam a Marrocos, a Orã, à Argélia e que ali vivem tão à vontade como se estivessem em sua casa, como cepa que reconhece a terra distante de onde partiram os seus ancestrais. Esta derivação meridional e levantina para a África não guarda a menor semelhança com as expedições colonizadoras para a América. Aliás, África e América têm sido, desde há muito, as palavras de ordem de dois partidos políticos e literários espanhóis. De dois partidos que coincidem exatamente em quase todos os momentos com o liberal e o conservador; o popular e o aristocrático; o berbere e o germânico. Era coisa quase obrigatória que um escritor antiaristocrático, antieclesiástico, antimonárquico incorporasse no seu repertório frases como “Teria sido melhor se a Monarquia espanhola, em vez de esgotar a Espanha na empresa da América, tivesse buscado nossa área de expansão natural, que é a África”.

Ao lado da conquista da América, a Espanha germânica (duplamente germânica, agora, sob a dinastia dos Ausburgos) trava na Europa o combate católico pela unidade. Trava esse combate e, em longo prazo, perde. E, por causa disso, perde a América. A legitimação moral e histórica da dominação sobre a América estava na ideia da unidade religiosa do mundo. O catolicismo era a justificação do poder da Espanha. O catolicismo, porém, havia perdido a disputa. Vencido o catolicismo, a Espanha restava sem título no qual embasar o império do Ocidente. Sua credencial havia caducado. O astuto Richelieu percebeu isso e, para derrubar a casa da Áustria, não hesitou em ajudar os paladinos da Reforma. Sabia muito bem que a pedra angular dos Ausburgos era a unidade católica da Cristandade.

E assim, batida no embate, primeiro na Europa, depois na América, que tarefa de valor universal alegaria a Espanha dominadora — Monarquia, Igreja, aristocracia — para conservar sua situação de privilégio? Na falta de justificação histórica, na demissão de toda função diretiva, suas vantagens econômicas e políticas restavam como puro abuso. Acresce que, na privação de empregos, as classes dirigentes haviam perdido o brio, até para a sua própria defesa. Pode ser observada uma série de fenômenos muito semelhantes na decadência da monarquia visigótica. E a força latente, nunca acabada, do povo berbere submetido, inicia abertamente a sua vingança.

Porque, mesmo nas horas zenitais da dominação, a “constante berbere” não havia nunca deixado de existir e de operar. Os povos superpostos, dominador e dominado, germânico e aborígine berbere, não se haviam mesclado. Nem sequer se entendiam. O povo dominador mantinha-se alerta contra a mestização com o dominado (até 1756, não se derroga a pragmática de Isabel a Católica que exigia prova de pureza de sangue, isto é, a condição de cristão velho, sem mescla de judeu ou mouro, mesmo que para o exercício de modestíssimas funções de autoridade). O povo dominado, entrementes, seguia detestando o dominador. Numa postura bem típica em relação aos dominadores, adota uma aparência de irônica submissão. Na Andaluzia, chega-se aos mais exagerados extremos da adulação; debaixo, porém, dessa adulação aparente se esconde o mais desdenhoso escárnio para com o adulado. Esta atitude de burla é a mais docemente resignada que adota o povo despossuído. Mais acima, já aparece o ódio e, sobretudo, a afirmação permanente da separação. Na Espanha, a expressão “o povo” conserva sempre um tom particularista e hostil. O “povo hebreu” compreendia, naturalmente, os profetas. O “povo inglês” inclui os lordes; pareceria fora de propósito a um inglês comum que pela denominação popular de inglês não fosse ele incluído na categoria dos maiores governantes do país! Aqui não: quando se diz “o povo” é para significar o indiferenciado, o inqualificável; o que não é aristocracia, nem igreja, nem milícia, nem hierarquia de nenhuma espécie. O próprio D. Manuel Azaña disse: “Não creio nos intelectuais, nem nos militares, nem nos políticos; não acredito senão no povo”. Mas, então, os intelectuais, os militares, os políticos, assim como os eclesiásticos e os aristocratas, não formam parte do povo? Na Espanha, não, porque há dois povos e, quando se fala de “o povo”, sem especificar, se faz referência àquele subjugado, àquele subtraído à sua sempre saudosa existência primitiva, indiferenciada, anti-hierárquica e ele, por isso mesmo, detesta rancorosamente toda hierarquia, característica do povo dominador.

Tal dualidade penetrou todas as manifestações da vida espanhola, as de aparência menos popular, inclusive. Por exemplo, o fenômeno europeu da Reforma teve na Espanha uma versão reduzida, mas totalmente impregnada da pugna entre germânicos e berberes, entre dominadores e dominados. Na Espanha, não se deu nenhum caso de um príncipe herege, como na França ou na Alemanha. Os grandes senhores se mantiveram aferrados à sua religião de casta. Todo herege, pequeno-burguês ou letrado, era como um vingador dos oprimidos. Na sua dissidência alentava, mais do que um tema teológico, uma incurável animadversão contra o aparato oficial, formidável: monarquia, Igreja, aristocracia…

E assim até datas mais recentes. A orientação berbérica, sempre mais aparente, conforme vê declinar a força contrária, assoma em toda a intelectualidade de esquerda, de Larra até aqui. Nem a fidelidade a modas estrangeiras logra ocultar um tom de ressentimento de derrotados em toda a produção literária espanhola dos últimos cem anos. Em qualquer escritor de esquerda há um gosto mórbido, tão persistente e tão molesto que não se pode alimentar senão de uma animosidade pessoal, de casta humilhada. A Monarquia, a Igreja, a aristocracia, a milícia deixam nervosos os intelectuais de esquerda, de uma esquerda que começa bastante à direita para esses efeitos. Não é que submetam essas instituições à crítica; é que, na presença delas, eles são acometidos de um desassossego ancestral, como a aflição que acomete os ciganos quando alguém dá o nome da bicha. No fundo, os dois efeitos são manifestações do mesmo velho chamamento do sangue berberesco. O que odeiam, sem o saber, não é o fracasso das instituições que denigrem, mas seu remoto triunfo; seu triunfo sobre eles, sobre os que as odeiam.  São os berberes derrotados que não perdoam os vitoriosos — católicos, germânicos — por terem sido os portadores da mensagem da Europa.

 

O ressentimento esterilizou toda possibilidade de cultura na Espanha. As classes diretoras não deram nada à cultura, o que não costuma ser sua missão específica em nenhuma parte. As classes subalternas, para produzir algo considerável do ponto de vista da cultura, teriam que ter aceito o quadro de valores europeu, germânico, que é o vigente; e isso lhes causava uma repugnância infinita por ser, no fundo, aquele dos dominadores.

Assim, grosso modo, pode-se dizer que a contribuição da Espanha à cultura moderna é igual a zero. Salvo algum ingente esforço individual, desligado de toda escola, e algum pequeno cenáculo inevitavelmente envolto num halo de estrangeirice.

Depois das escaramuças, teria de chegar a batalha. E chegou: é a República de 1931; será, sobretudo, a República de 1936. Estas datas, principalmente a segunda, representam a demolição de todo o aparato monárquico, religioso, aristocrático e militar que ainda afirmava, mesmo em ruínas, a europeidade da Espanha. A máquina estava inoperante, logicamente; mas o grave é que sua destruição representa a vingança da Reconquista, ou seja, a nova invasão berbere. Estaremos de volta ao indiferenciado. Provavelmente se ganhará em placidez elemental nas condições populares de vida. Talvez o campino andaluz, infinitamente triste e nostálgico, recomece o silencioso colóquio com a terra de que foi desapossado. Quase a metade da Espanha sentir-se-á contemplada da melhor forma possível se isso acontecer. Ter-se-á conseguido operar perfeito ajuste na ordem natural. O mal é que, então, haverá um povo único, o dominador e o dominado num só elemento, povo sem a mínima aptidão para a cultura universal. Tiveram-na os árabes; mas os árabes eram pequena casta diretora, já mil vezes diluída no fundo humano sobrevivente. A massa, que é a que vai triunfar agora, não é árabe, mas berbere. Aqueles suplantados serão os germanos que ainda nos ligavam com a Europa.

Talvez a Espanha se parta em pedaços, ao longo de linhas que estabeleçam, dentro da península Ibérica, os verdadeiros limites da África. Toda a Espanha acabe africanizada, talvez. Mas o certo é que, por muito tempo, a Espanha deixará de contar na Europa. E então, aqueles que pela solidariedade de cultura e ainda pela misteriosa voz do sangue nos sentimos ligados ao destino europeu, poderemos demudar o nosso patriotismo de estirpe, que ama esta terra porque nossos antepassados a ganharam e enformaram, num patriotismo telúrico, que ame esta terra por ser esta terra, mesmo que na sua larga ela tenha emudecido até o último eco do nosso destino familiar?

José António Primo de Rivera
Prisão de Alicante, 13 de agosto de 1936

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Fonte: El Manifiesto. Autor: José António Primo de Rivera. Título original: Germanos contra bereberes. Data de publicação: 18 de janeiro de 2023. Versão brasilesa: Chauke Stephan Filho.