Marshall Yeats: Carl Jung e os judeus

Na verdade, o próprio judeu incita o antissemitismo no seu afã de acusá-lo em toda parte.
(Carl Jung ― 1934)

Desde há bastante tempo, eu sinto forte interesse pela obsessão do judeus em relação a personalidades históricas já falecidas que fizeram comentários não muito lisonjeiros sobre a raça deles. Quanto mais famoso e talentoso o publicista, maior a intensidade da obsessão. Aqui mesmo, em The Occidental Observer, já foram indicadas algumas dessas obstinações, como no caso da vindita judia contra T. S. Eliot e contra o seu contemporâneo Ezra Pound. Anthony Julius, em T. S. Eliot, anti-Semitism and Literary Form, por exemplo, escreve que os leitores judeus da poesia de Eliot reagem, ao mesmo tempo, com “horror e admiração”.[1] Horror, porque percebem como injustificada a crítica ao seu grupo étnico, que se torna mais incisiva por causa da sensibilidade etnocêntrica deles. Admiração, por outro lado, porque eles apreciam, apesar de si mesmos, o talento desse escritor que os ameaça e é atacado. A “atração” pela qual eles sempre voltam a lidar com o escritor-alvo é decorrência do desejo de desconstruir e rebaixar aquele talento e, assim, vingar ou mitigar a crítica.

Os judeus estão presos, também, e firmemente, a um medo ou paranoia de raízes na história. Para os judeus, o passado está sempre presente, levando-os a comportamentos perigosos e extremamente agressivos contra as populações inclusivas. A expressão perfeita dessa paranoia pode ser encontrada num recente artigo saído em The Guardian escrito pelo jornalista judeu Barney Ronay. Quando escreveu o texto, Ronay estava na Alemanha, cobrindo o Campeonato Europeu de Futebol, mas ele não consegue fazer parecer que o seu foco está no esporte. Ele informa a seus leitores que “gostou de estar neste caloroso, amigável lugar para a Euro 2024, um tipo de volta ao lar. Mas nada nesta casa evita que eu me sinta aterrorizado aqui”. E ele continua nos seguintes termos:

Aqui vai, a título de exemplo, uma lista não exaustiva das coisas alemãs que são medonhas  para mim, começando pelo meu primeiro dia aqui, quando uma feliz mulher alemã ria às gargalhadas num trem que passava pelo bosque na periferia de Munique, uma cena que me deu medo pelo riso solto alemão de doido feliz. Os trens alemães são medonhos. Os ramais das ferrovias alemãs são medonhos. Há muita vibração negativa aqui, que me esgota. Uma floresta alemã é medonha, principalmente no lugar das clareiras. Um parque alemão vazio ao anoitecer é medonho. Qualquer praça de uma cidadezinha alemã é medonha … E o que mais? A mobília alemã de madeira escura. Uma fileira de bicicletas alemãs estacionadas. (Para onde iriam? Será que precisarei de uma?) As escadas alemãs, os corredores, as malas. A maioria dos sapatos alemães. Os sapatos alemães descartados.

Muitos desses medos têm origem em histórias contadas às crianças judias e são reforçados por grupos culturais e políticos judeus. O medo é uma peça-chave no mecanismo que mantém o etnocentrismo judeu, daí a ADL investir fortunas em pesquisas sobre o antissemitismo como forma de amedrontar e tanger o rebanho étnico para a ação unitária. No caso de Ronay, “um mito da família reza que um tio distante foi retirado de um trem e baleado. A bala atravessou o pescoço, ele ficou caído um tempinho, mas logo se levantou e voltou a lutar pela resistência”. Eu aplaudo o emprego da palavra “Mito” aqui, mas existem centenas de milhares de famílias judias que acolhem essas contos de bicho-papão como fatos históricos. E o medo judaico, o etnocentrismo judaico têm necessidade de bichos-papões, e destes o mais óbvio é Hitler, havendo também outros mais persistentes em termos culturais como Eliot ou Pound ― figuras de que ainda se pode tratar em público com respeito e admiração. Entre essas figuras está Carl Jung.

Carl Jung e The Culture of Critic

Embora (ou por isso mesmo) Jung já tenha sido associado à psicanálise ― uma “ciência” tão judaica que consta em The Culture of Critic, o livro de Kevin MacDonald sobre os movimentos intelectuais judaicos ― o psiquiatra suiço vem se tornando, cada vez mais, alvo de condenação, desconstrução e crítica nos últimos anos. No recém-publicado Anti-Semitism and Analytical Psychology: Jung, Politics and Culture, o acadêmico judeu Daniel Burston escreve isto:

No mundo atual da psicoterapia, ninguém pode ser junguiano sem dever responder à acusação de que Jung foi nazista e antissemita. […] Suas declarações sobre os valores supermaterialistas da psicologia judaica de efeitos corrosivos na natureza espiritual da psique foram feitas nos anos trintas. […] Psicanalistas deixaram de estudar Jung por causa disso; pela mesma razão outros intelectuais lançam Jung ao descrédito.[2]

Num parágrafo que mais parece o de uma novela de terror, Jung é figurado como bicho-papão, e o antissemitismo, explicado como fenômeno misterioso, fantasmagórico e aterrorizante:

Depois da leitura deste livro, talvez os junguianos compreendam por que tantos judeus veem o antissemitismo como o inimigo metamórfico e imortal sempre presente nos recônditos das culturas cristã e islâmica; um oponente que jaz dormente por curtos ou longos períodos, mas que sempre se levanta para voltar a nos atormentar ao longo dos séculos.

“Inimigo metamórfico e imortal”… Deus me livre e guarde!

Burston estabelece uma distinção entre o que ele chama de antissemitas de “baixo nível e alta intensidade” e antissemitas de “alto nível e baixa intensidade”. Ele menciona, abertamente, Kevin MacDonald como exemplo de alguém na segunda dessas categorias, na qual também inclui Jung. Burston alega que “intelectuais antissemitas” como MacDonald e Jung, embora não sendo violentos, “darão cobertura ou apoio para os antissemitas menos cultos e mais explícitos, quando for o caso”. A tentativa de difamação aí é, pois, dizer que homens como MacDonald e Jung são, na essência, bandidos vestidos de terno.

Burston reporta o pensamento de Jung ao movimento neoconservador dominante no seu tempo de universidade, com Jung sendo pintado como alguém sob a influência de certo germanismo quase bárbaro:

Ele rejeitou o naturalismo e foi atraído para o simbolismo e o irracionalismo. Na política, ele questionou a democracia e rejeitou o socialismo, maisquerendo o elitismo nietzschiano. […] Jung adotou a crítica [de Eduard von Hartmann] à modernidade, [incluindo sua] preocupação com a “judaização” da sociedade moderna. […] Para Jung, Freud tinha se tornado o representante de uma mundivisão racionalística e “desencantada”.[3]

Nos anos vintes e trintas, adeptos de Freud e Jung viam-se como oponentes numa batalha pela civilização conforme cada um dos lados a definia. Em virtude de seu antimaterialismo e de suas críticas a muitas das mais perversas teorias de Freud, os freudianos ― na maioria judeus, tinham Jung em conta de um antissemita e, mais tarde, de um “arauto do barbarismo fascista e nazista”. Mantendo esse mesmo viés, Burston diz existir “uma significativa e perturbadora ligação entre a dinâmica do antissemitismo no decorrer dos séculos e a psicologia e política de Carl Jung”.

O maior problema dos judeus do passado e do presente quanto a Jung é que ele se atreveu a refletir e fixar o olhar analítico sobre os próprios judeus. Quando toda a psicanálise parecia girar em torno do que Kevin MacDonald chamaria de “uma crítica radical da sociedade gentia”, com a elaboração em causa própria de teorias sobre o antissemitismo, Jung desenvolveu uma incisiva crítica aos judeus e ao que chamou de “o anticristianismo judaico”, sendo muitas das suas observações resultantes da experiência do autor no próprio meio social da psicanálise judaica. Em outras palavras, Jung colocou os charlatães judeus “no divã”. Numa carta a um colega datada de maio de 1934, Jung dá a seguinte explicação:

O complexo crístico do judeu favorece uma atitude geral meio histérica […] que se fez mais visível para mim por causa dos ataques anticristãos que venho sofrendo. O simples fato de eu falar da diferença entre as psicologias judaica e cristã basta para que qualquer um se sinta autorizado pelo preconceito a me acusar de antissemita. […] Como tu sabes, Freud me acusou de antissemitismo porque eu não pude dar a minha aprovação ao materialismo desalmado dele. Na verdade, o próprio judeu incita o antissemitismo no seu afã de acusá-lo em toda parte. Por que não pode um judeu, como todo pretenso cristão, aceitar críticas pessoais quando confrontado com a opinião alheia sobre ele? Por que se presume sempre que a intenção do crítico seja condenar todos os judeus?

Por causa dessa afronta, Jung é visto pelos judeus como alguém perigoso que não merece perdão. Burston está longe de ser o único a querer desacreditar Jung por causa de sua visão sobre os judeus. Nos últimos anos do século XX, o acadêmico judeo-britânico Andrew Samuels envidou esforço nesse mesmo sentido, chegando a fazer a afirmação de que “em C. G. Jung, o nacionalismo encontrou o seu psicólogo”. A resposta de Samuels para Jung foi dizer que era Jung quem se encontrava preso ao medo dos judeus. Samuels tentou colocar Jung “no divã” e psicologizar as suas atitudes para com os judeus, explicando-as como consequência dos sentimentos de alguém inseguro diante de supostas ameaças. Samuels:

Na minha percepção, as ideias de nação e de diferença nacional são tópicos que o fenômeno hitleriano e a psicologia analítica de Jung compartilham. Pois, enquanto psicólogo das nações, também Jung sentir-se-ia ameaçado pelos judeus, essa estranha assim chamada nação sem terra. Também Jung sentir-se-ia ameaçado pelos judeus, esta estranha nação sem formas culturais  ― ou seja, sem formas de cultura nacional ― de si mesma, daí, nas palavras de Jung ditas em 1933, requerer “nações hospedeiras”. O que ameaça Jung, em particular, pode ser posto à luz pelo exame do que ele diz, com frequência, ser a “psicologia judia’.

Ainda nos primeiros anos deste século XXI, parecia haver uma divisão entre os acadêmicos não judeus ― ansiosos para manter Jung na mira do público, e os acadêmicos judeus ― ansiosos para deixá-lo na sarjeta. Numa carta para o New York Times em 2004, um tal de “Henry Friedman” atacou Robert Boynton (Univ. de N. Iorque) e Deirdre Bair (biógrafa ganhadora do National Book Award) em virtude da concordância destes quanto a Jung não ser “nem pessoalmente antissemita nem politicamente astuto”, pelo que absolviam Jung de algumas das piores acusações assacadas contra ele pelos críticos judeus desejosos de associá-lo com as ideias do nacional-socialismo. Friedman chamou isso de “uma contribuição a mais para a enganosa tentativa de minimizar a importância do racismo antissemita de Jung e sua colaboração com as políticas genocidas do III Raiche”. Friedman continua:

Não há como desculpar Jung do seu virulento racismo e da importância que teve no movimento nazista. Pior ainda é que as suas ideias sobre a psicanálise terão servido ao desejo de Hitler e Göring de expurgar a psicanálise dos conceitos de Freud ― especialmente a noção do complexo de Édipo, que parecia ofender a sensibilidade de Hitler.   A declaração de que Martin Heidegger colaborou mais com Hitler do que Jung só serve para desviar a atenção do sério envolvimento de Jung com a propaganda antissemita dos nazistas. Pode não proceder a conclusão de que Jung tenha sido maior criminoso do que Heidegger, mas como alguém que escrevia artigos sobre a inferioridade dos judeus, Jung merece grande condenação, não as desculpas esfarrapadas de Bair e Boynton para ele.

As atitudes de Jung para com os judeus

Os textos profissionais e privados de Jung contêm quantidade significativa de material sobre os judeus, e seu conteúdo é, com frequência, altamente crítico. Por causa disso, não surpreende que os judeus vejam Jung como formidável oponente. Jung fez muitas afirmações que parecem corroborar o juízo de Kevin MacDonald quanto a ser a psicanálise de Freud um movimento intelectual judeu. Em 1934, Jung recebeu muitas críticas por um artigo que publicou com o título “The State of Psychotherapy Today, dizendo que a psicanálise era “uma psicologia judia”. Defendendo-se das acusações de racismo pelas indicações de que judeus e europeus têm diferentes psicologias, Jung explicou:

As diferenças psicológicas existem entre todas as nações e raças, até mesmo entre os habitantes de Zurique, Basileia e Berna. (De onde mais viriam as boas gozações?) Ocorrem, de fato, diferenças entre famílias e indivíduos. Por essa razão, em ataco toda psicologia niveladora que pretenda validade universal como, por exemplo, as de Freud e Adler. […] Todos os ramos da humanidade somam-se numa corrente maior ― sim, mas o que seria do rio sem os afluentes? Por que esse ridículo melindrismo quando alguém se atreve a dizer alguma coisa sobre a diferença psicológica entre judeus e cristãos? Até uma criança pode perceber que as diferenças existem.

Jung acreditava que os judeus, como todos os povos, têm uma personalidade característica, e ele salientava a necessidade de levar em consideração essa personalidade. Na sua própria área de especialização, Jung advertia que “as psicologias de Freud e Adler eram especificamente judias e, por isso, não se justificava sua aplicação a arianos”.[4] Conforme Jung, um fator formativo da personalidade judia foi o desenraizamento dos judeus e a persistência da Diáspora. Jung argumentou que aos judeus faltava uma “qualidade telúrica”, significando que “o judeu […] sofre grave carência daquela qualidade dos homens que os enraíza na terra de onde vem a sua força”.[5] Jung escreveu essas palavras em 1918, mas elas conservam relevância mesmo depois da criação do Estado de Israel, porque a vasta maioria dos judeus vive fora de Israel. Os judeus continuam sendo um povo em diáspora, e muitos seguem a ver essa sua condição diaspórica como força. Dada a dispersão e o desenraizamento deles, no entanto, Jung dizia que os judeus desenvolveram modos de prosperar no mundo mais dependentes da exploração das fraquezas de outros povos do que da dominação explícita pela própria força. No dizer de Jung, “os judeus têm uma particularidade em comum com as mulheres; fisicamente mais fracos, eles concentram os seus golpes nas fendas da armadura de seus adversários”.[6]

Jung cria que judeus eram incapazes de operar efetivamente sem estar numa sociedade hospedeira e que, assim, eles sempre buscavam se enxertar nos sistemas de outros povos a fim de neles medrar. Em The State of Psychotherapy Today, Jung escreveu: “O judeu, que é uma espécie de nômade, nunca criou uma forma cultural dele mesmo e, tanto quanto podemos ver, nunca o fará, uma vez que todos os seus instintos e talentos demandam uma nação mais ou menos civilizada que lhe sirva de anfitriã para o seu crescimento”. Nesse processo de desenvolvimento grupal, eles “concentram os seus golpes nas fendas da armadura de seus adversários”, recorrendo também a outras flexíveis estratégias.[7]

Jung ainda acreditava (no que foi corroborado pelo trabalho de Kevin MacDonald) que havia certa agressividade nos judeus como decorrência parcial de mecanismos internos ao judaísmo. Numa série notável de observações pressagiosas nos anos cinquentas, Jung expressou o seu desagrado com o comportamento das mulheres judaicas e prenunciou a emergência do feminismo como sintoma da patologia da judia. Segundo Jung, os homens judeus eram “noivas de Iavé”, por causa do que as mulheres judias devieram obsoletas sob o judaísmo. Em consequência disso, no começo do século XX, continua Jung, as mulheres judias passaram a expressar as suas frustrações, agressivamente, contra a natureza androcêntrica do judaísmo (e contra a sociedade hospedeira como um todo), ao tempo que conservavam em si as características da psicologia judia e as correspondentes estratégias. Escrevendo para Martha Bernays, a mulher de Freud, ele certa vez observou, a propósito das mulheres judias, que “muitas delas são espalhafatosas, não são?”, acrescentando em seguida que havia tratado de “muitas mulheres judias ― e todas sofriam perda de individualidade, muita ou pouca perda. Mas a compensação é sempre pela falta. Ou seja, não é a atitude correta”.[8]

Jung, naquele tempo, mantinha-se cauteloso quanto às acusações de antissemitismo e era “um crítico da hipersensibilidade do judeu ao antissemitismo”, com o parecer de que “ninguém podia criticar um indivíduo judeu sem ter a sua crítica transformada num ataque antissemita”.[9] Não dá para acreditar que Jung, argumentando, basicamente, que os judeus têm um perfil psicológico singular e desenvolveram um método singular de se darem bem no mundo, pudesse discordar da quase idêntica premissa fundamental da trilogia de Kevin MacDonald. Na verdade, segundo Jung, o papel de vítima que o judeu se atribui e representa, a par das acusações de antissemitismo que lança contra os seu críticos, isso tudo consiste em simples parte da estratégia judaica ― trata-se de conveniente cobertura da sua ação etnocêntrica concertada para “golpear as fendas da armadura de seus adversários”. Por exemplo, depois da guerra, numa carta de 1945 para Mary Mellon, ele escreveu: “É difícil, entretanto, mencionar o anticristianismo dos judeus depois das coisas horríveis acontecidas na Alemanha. Mas, afinal, os judeus não eram criaturas tão inocentes ― o papel dos intelectuais judeus na Alemanha de antes da guerra seria interessante objeto de pesquisa”.[10] Com efeito, MacDonald nota:

Um traço saliente do antissemitismo entre os social-conservadores e antissemitas raciais na Alemanha de 1870 a 1933 era acreditar que os judeus eram instrumento para a criação de ideias que solapavam as atitudes e crenças da Alemanha tradicional. Os judeus estavam super-representados como editores e escritores na Alemanha dos anos vintes, e “a causa mais geral da expansão do antissemitismo foi a forte e infeliz tendência dos dissidentes judeus para atacar as instituições e os costumes nacionais tanto nas publicações socialistas quanto nas não socialistas”. (Gordon, 1984, 51) Essa “violência midiática” dirigida contra a cultura alemã por publicistas judeus como Kurt Tucholsky ― que “tinha o coração subversivo sempre na boca” (Pulzer, 1979, 97) — era amplamente reportada pela imprensa antissemita.(Johnson, 1988, 476-477)

Os judeus não se encontravam apenas super-representados nos meios de jornalistas, intelectuais e “produtores de cultura” na Alemanha de Weimar. Mais do que isso, eles é que criaram esses movimentos, basicamente. “Eles atacavam com violência qualquer coisa tendo a ver com a sociedade alemã. “Eles detestavam o exército, o judiciário e a classe média em geral”. (Rothman & Lichter 1982, 85). Massing (1949, 84) notou que o antissemita Adolf Stoecker tinha em conta a “falta de deferência da parte dos judeus para com o mundo cristão-conservador”. (The Culture of Critique, Ch. 1)

Esses sentimentos correspondiam aos comentários de Jung feitos a Esther Harding, com quem compartiu a sua opinião sobre os judeus em novembro de 1933. Segundo o psicólogo, os judeus haviam se aglomerado na Alemanha de Weimar, porque eles tendiam a ser “pescadores de águas turvas”. Pela alegoria, Jung significava a propensão da judiaria de se congregar e prosperar nos meios sociais em processo de dissolução. Ele referiu haver observado pessoalmente judeus da Alemanha bebendo champagne em Montreaux (Suiça), enquanto “os alemães morriam de fome”. Ainda assim, “muito poucos foram expulsos”, “as suas lojas em Berlim seguiam funcionando normalmente”. E se a situação ficou difícil para os judeus na Alemanha, foi porque “a maioria deles mereceu isso”.[11] Um aspecto dos mais interessantes na discussão sobre por que os judeus ganharam tanta influência tem a ver com as cotas estabelecidas em 1944, sob a supervisão de Jung, para a admissão de judeus na Associação de Psicologia analítica de Zurique. As cotas (um generoso quinhão de 10% para membros de pleno direito e outro de 25% para membros convidados) foram introduzidas num apêndice secreto do estatuto e estiveram em vigência até 1950.[12] Só se pode presumir que, como outras cotas adotadas mundo a fora em vários períodos, o objetivo aqui era limitar ou, ao menos, manter alguma medida de controle sobre  a influência judia numérica e diretiva naquela Associação.

Jung atuava, evidentemente, num tempo quando a consciência racial era aguda de todos os lados. Kevin MacDonald explica em The Culture of Critique que havia na psicanálise uma clara compreensão entre os judeus da pertença racial ariana de Jung e de sua resistência a entrar em plena comunhão com os membros e dirigentes judeus. MacDonald escreve:

Desde o início do relacionamento deles, Freud mantinha suspeitas quanto a Jung, eram “preocupações motivadas pela herança cristã de Jung, pelos seus preconceitos antijudaicos, pela incerta capacidade de ele, como não judeu, compreender e aceitar plenamente a própria psicanálise”. Antes do rompimento, Freud descreveu Jung como de “forte e independente personalidade teutônica”. Depois que Jung deveio diretor da Associação Internacional de Psicanálise, um colega de Freud ficou preocupado porque “considerados como uma raça”, Jung e os gentios eram “completamente diferentes de nós, vienenses”. (The Culture of Critique, Ch. 4)

Conclusão

Na medida em que a psicanálise continua a existir como movimento ou, pelo menos, como um nicho na academia e na cultura, fica claro que Jung, o “teutão”, continua a assombrar os judeus com os seus comentários e as suas críticas. E, agora, de certa forma, persiste a clivagem que separou Jung e Freud um do outro, há um século. A cisão, talvez, comprove o fato de que a psicanálise tenha sido, desde a sua concepção, uma ferramenta de emprego no conflito racial. Creio que, se Jung voltasse a viver hoje, ele iria rir de ainda figurar na psique dos judeus como um medonho bicho-papão com o terrível riso solto de um alemão. Isso, porém, não seria nenhuma surpresa para Jung.


[1] A. Julius, T.S. Eliot, anti-Semitism and Literary Form (Thames & Hudson, 2003), 40.

[2] D. Burston, Anti-Semitism and Analytical Psychology: Jung, Politics and Culture (Routledge: New York, 2021).

[3] G. Cocks (2023). [Review of the book Anti-Semitism and Analytical Psychology: Jung, Politics and Culture, by Daniel Burston]. Antisemitism Studies 7(1), 215-222.

[4] B. Cohen, “Jung’s Answer to Jews,” Jung Journal: Culture and Psyche, 6:1 (56–71), 59.

[5] Ibid, 58.

[6] Ibid.

[7] T. Kirsch, “Jung’s Relationship with Jews and Judaism,” in Analysis and Activism: Social and Political Contributions of Jungian Psychology (London: Routledge, ), 174.

[8] Ibid, 177.

[9] T. Kirsch, “Jung and Judaism,” Jung Journal: Culture and Psyche, 6:1 (6-7), 6.

[10] S. Zemmelman (2017). “Inching towards wholeness: C.G. Jung and his relationship to Judaism.” Journal of Analytical Psychology, 62(2), 247–262.

[11] See W. Schoenl and L. Schoenl, Jung’s Evolving View of Nazi Germany: From the Nazi Takeover to the End of World War II (Asheville: Chiron, 2016).

[12] S. Frosh (2005). “Jung and the Nazis: Some Implications for Psychoanalysis.”Psychoanalysis and History, 7(2), (253–271), 258.

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Fonte: The Occidental Observer | Autor: Marshall Yeats | Título original: Carl Yung and the Jews | Data de publicação: 29 de junho de 2024 | Versão brasilesa: Chauke Stephan Filho.