COMUNISMO JUDEU: O MENTIROSO DESMENTIDO

A Specter Haunting Europe: The Myth of Judeo-Bolshevism
Paul Hanebrink
Harvard University Press, 2018

As discussões e a literatura da historiografia judaica no atual meio acadêmico do estabilismo exigem extraordinária coreografia. Basicamente, trata-se de uma dança de bastante correria para cá e para lá. Os dançarinos revelam muito jogo de cintura pela gateza com que se esquivam dos fatos, como também muita cara de pau pela naturalidade com que inventam histórias. Todo o mundo sabe que suas imaginosas narrativas são falsas, ainda assim eles não se cansam de repetir essas patranhas da forma mais desavergonhada. O que primeiramente chamou a minha atenção foi o livro de Paul Hanebrink A specter haunting Europe: the myth of judeo-bolshevism, exaltado na recente crítica laudatória de Christopher Browning “The fake threat of jewish communism” [A falsa ameaça do comunismo judaico] no The New York Review of Books. Browning é um historiador do estabilismo de muito préstimo para os judeus pela assistência advocatícia que lhes dá (vende, na verdade — e a bom preço). Browning recebeu 30 mil dólares de Deborah Lipstadt para testemunhar contra David Irving. Ele também costuma depor animadamente contra ex-soldados europeus em julgamentos de crimes de guerra. Embora seu mais notável trabalho,  Ordinary Men: Reserve Police Battalion 101 and the Final Solution in Poland (1992), contenha a tese pouco notável de que a guerra transforma homens comuns em assassinos, a dedicação de Browning em favor da narrativa dos judeus fez dele o guru da vitimologia judia. Tendo recebido prêmios e recursos de organizações como a Yad Vashem e a USC Shoah Foundation Center, além de muito incenso nos meios de comunicação e universidades do sistema, Browning segue assim galgando posições na sua carreira de arrivista. Ele agora, evidentemente, decidiu favorecer Paul Hanebrink com o toque mágico de sua mão. Neste ensaio, eu quero abordar a crítica de Browning e o texto de Hanebrink enquanto exercícios na produção de histórias fraudulentas.

O título que Browning deu a sua resenha [A falsa ameaça do comunismo judaico] deteve a minha atenção. Na hora, eu nem acreditei, eu pensei: “Será que esse cara tem a coragem de defender uma tese dessas? Será que ele pensa que pode ‘desmentir’ o que é a realidade do comunismo judeu?”. Tamanha façanha exigiria, com certeza, bastante chutzpah [descaramento], mas desde o começo da resenha ficava claro que o texto seria evasivo, que evitaria tratar do tema com franqueza. Como afirma Browning no primeiro parágrafo, “Hanebrink não pretende repetir o que ele considera um erro do Entreguerras — a inútil tentativa de contestar um mito de forma racional, com base em fatos históricos e dados estatísticos”. O que há de interessante nesse vulgar subterfúgio é a confissão mais ou menos explícita desses dois historiadores (“magistrais”) de que eles não têm elementos suficientes para desfazer o “mito” que desafiam. Considerar a apresentação de fatos como “tentativa inútil” mostra a inconsistência intelectual deles, a fraqueza de sua argumentação.

Entretanto, a questão central disso tudo tem a ver com o padrão estrutural da historiografia judia: evitar os fatos ou, quando impossível, minimizar sua importância, e desviar a discussão para abstrações e sofismas. Numa página do manual da ADL, Browning reconhece e lamenta timidamente que “há um pouco de verdade no estereótipo do bolchevismo judeu”, mas insiste, com relação ao comunismo, que “o judeu, como ‘a face da revolução’, é só uma noção culturalmente construída”. Chegamos assim à situação familiar em que fatos não importam e tudo o que desagrada os judeus é olimpicamente declarado reles “constructo”.

 

O texto de Browning é um amontoado de chavões e trai a pesada influência que ele sofreu de um colega dele, o grande filossemita que foi Gavin Langmuir (1924-2005), no que se refere à interpretação do antissemitismo. Eu estudei detidamente os trabalhos de Langmuir quatro anos atrás, quando então escrevi o seguinte:

Langmuir seguiu o modelo do que escrevem os próprios judeus. Isso significa, essencialmente, que ele absolve as populações judias medievais de qualquer responsabilidade pelas reações negativas das populações cristãs anfitriônias; isso significa, também, que ele atribui às sociedades cristãs ou ocidentais um estado psicopatológico arraigado nelas de forma profunda, tendo por sintomas a fantasia, a repressão, o sadismo. A despeito de sua proficiência em história jurídica medieval ser realmente limitada, Langmuir dispôs-se levianamente a fazer grandes pronunciamentos sobre a natureza e as origens dos sentimentos antijudaicos na Europa e ao longo do curso dos séculos. Seus trabalhos, com poucas e miseráveis evidências de leitura mais ampla, retratam o antissemitismo como “basicamente um fenômeno ocidental”.[1] Arrogante, ele se atribui a proeza de haver “definido a cristandade e categorizado suas manifestações, inclusive o catolicismo, de forma objetiva”.[2] Ele faz em seus livros a desconcertante confissão de que “Não irá discutir as atitudes dos pagãos para com os judeus na Antiguidade”.[3] Falando com desfaçatez das teorias racionais de conflito intergrupal baseadas em interesse como metodologia para a compreensão do antagonismo entre judeus e não judeus, ele diz de tais teorias que “são esforços equivocados de teóricos raciais pseudocientíficos”; e mais: afirma que tentativas de explicar o antissemitismo levando em conta o “senso comum” terminam em “desastre”.[4] Na opinião dele, ao contrário, “tanto em sua origem quanto nas suas mais recentes e horríveis manifestações […] o antissemitismo  resultaria da hostilidade dos não judeus, da irracionalidade do pensamento dos não judeus sobre os judeus”.[5]

Browning subscreve totalmente a linha de pensamento de Langmuir, chegando a comentar o texto de Hanebrink da forma seguinte:

O judeu da Idade Média, um infiel, veio a ser o judeu do século XX, um subversivo político. O judeu emancipado, dada a sua maior visibilidade enquanto beneficiário da moderna economia industrial e comercial na altura do final do século XIX, deu azo a que a noção da usura judia fosse substituída por aqueloutra da rapacidade do capitalismo judeu, e após 1914 a imagem do judeu como ameaça econômica revestiu-se de cores mais fortes, ante as acusações de que o judeu lucrava com a guerra e com o mercado negro. O judeu tido em conta de forânea grei exclusivista na cristandade medieval foi facilmente transformado em inassimilável minoria considerada ameaça alogênica interna.

O que há de comum a Langmuir e a Browning é a tentativa de criar uma conexão psicológica e cultural entre as atitudes antijudaicas na Idade Média e a situação atual, estabelecendo analogia entre o presente e o passado. Assim, o antijudaísmo hodierno, segundo declaram esses dois historiadores, explica-se por sua irracional origem religiosa. E nessas declarações esses senhores se valem de descritores abracadabrantes, palavras de que fazem uso abusivo para como que encantar e persuadir os leitores, fazendo-os adotar certos pontos de vista. Deve-se notar a insistência de Browning na suposta condição do judeu como dissidente espiritual e sua clara evasão do fenômeno muito real da agiotagem judia, a qual Browning reduz a reles “noção” preconceituosa. A concorrência econômica do judeu na Modernidade não é levada a sério, mas considerada apenas como “imagem” irracional; e a exploração da guerra como meio de enriquecimento, simples “acusação”. Fica-se assim, então: o coitado do judeu, pacato e inocente, é vítima de gente invejosa, preconceituosa, que o ataca com acusações caluniosas. Esse tipo de enfoque, na sociologia e na psicologia, é coisa típica de Freud e da Escola de Francforte; na historiografia, é coisa típica de Langmuir.

Tais alegações em favor dos judeus, como os sofismas de Langmuir, resultam de grande fraude ou de forte dissonância cognitiva, senão de ambas. O número de trabalhos tratando das atividades de judeus no mercado negro é espantoso. Sabemos por publicação de história da Universidade de Stanford, por exemplo, que em 1941, em certa região da França, 90% daqueles que traficavam no mercado negro eram judeus. [6] Da mesma forma, o livro de Mark Roodhouse publicado pela Oxford intitulado Black Market Britain: 1939–1955, registra que os judeus eram a grande maioria daqueles processados por contrabando na Londres dos anos quarentas.[7] O maior contrabandista de comida na Inglaterra, durante a II Guerra, foi o judeu Sidney Seymour, nascido Skylinsky, que transformou sua sinagoga num depósito clandestino para abastecer o mercado negro, recebendo a mais pesada pena por violação da legislação de comércio de alimentos.[8] Esses são apenas dois exemplos tomados aleatoriamente da crônica histórica, mas a questão é que, para Browning como para Langmuir, trata-se apenas de “acusação” irracional, fatos “fúteis” sem nenhuma importância.

Browning segue com sua sediça explicação sobre a ascendência judia na esquerda:

Mesmo antes da crise de 1918 – 1919, quando muitos europeus viveram a experiência da derrota e da revolução, os judeus só estavam super-representados em partidos liberais e socialistas em virtude de que não eram bem recebidos em partidos conservadores e católicos. A tendência de estigmatizar qualquer movimento político à esquerda dos conservadores como coisa de judeu já era evidente em 1912. Neste ano, os católicos, os liberal-democratas e os social-democratas obtiveram vitória eleitoral na Alemanha. Os vencedores formariam a “Coligação de Weimar” em 1919, em grande parte responsável pela elaboração da Constituição de Weimar, tão vilipendiada pelos conservadores, que chamaram aquela eleição de 1912 de “a eleição dos judeus”. [grifo nosso]

De novo, depara-se-nos artifício bastante manjado: quando os judeus não têm como negar um fato (sua super-representação em partidos liberais e socialistas), nem podem fazê-lo parecer de menor importância, então eles tratam de explicá-lo por suposto efeito de preconceito (os judeus seriam rejeitados em outros partidos). O problema com essas referências históricas pontuais, como muitas vezes tenho explicado, é o que chamei de “cronologia recortada” — algo bastante comum em toda a historiografia judaica e filossemítica sobre o antissemitismo. Quando confrontado a algum fato constrangedor e inevitável concernente ao seu comportamento (esquerdismo, agiotagem, negociatas financiais, pornografia etc.), o judeu ou seu aliado ou lacaio apela a ideia de que tudo tem causa no preconceito antissemita e a partir daí os acusadores são criminalizados, e os criminosos, inocentados. Os judeus estão na esquerda? Ah! Deve ser porque eles não são aceitos na direita. O problema fica mais complicado quando se questiona a razão da exclusão ou o porquê de o judeu ser visto como antagonista social ou cultural. Aqui, ainda se fala de “preconceitos irracionais”. Entretanto, caso se insista na questão, à luz de mais aprofundado contexto histórico, o  questionador não recebe resposta, nenhum fato, só retórica vazia e olhares perdidos.

Sob o peso de suas próprias contradições, Browning afunda em evasivas e manobras logomáquicas. As dúvidas multiplicam-se aos olhos de qualquer leitor. Os judeus estavam ou não estavam super-representados nos partidos comunistas? Se estavam, por que a ideia do esquerdismo judeu seria um mito? E se faltam fatos para derrubar o “mito”, como ele poderia cair tendo contra si a mera sofistaria acadêmica do tal “construto cultural”? Conforme Browning segue na sua fuga para a frente, a confusão só aumenta. Confira:

Desde o princípio da I Guerra Mundial, a Rússia czarista tratava os seus súditos judeus como gente indigna de confiança e potencialmente desleal. Seu exército evacuou à força meio milhão de judeus, ou um milhão, das zonas de combate. Essas operações do exército russo estimulavam o êxodo de muitos outros judeus das regiões orientais do Império Austro-Húngaro para Viena e Budapeste, cidades supostamente mais seguras. A Revolução Russa rebentou entre temores quanto à lealdade dos judeus e quando seguiam sendo expulsos, o que fez mais intensos aqueles temores. O “pânico” por causa do judeo-bolchevismo, argumenta Hanebrink, “encontrou terreno fértil, preparado no tempo da guerra pela paranoia sobre a lealdade do judeu”.

Eis aí mais um excelente exemplo de “explicação” por meio de cronologia truncada. Browning indica que preocupações concernentes ao esquerdismo judeu decorriam de “paranoia”, de desconfiança na lealdade judia, mas ele não fala do contexto dessa “paranoia”, ele não leva em conta nada da situação histórica do período anterior a 1914. Qualquer um, ainda que pouco conhecesse da literatura, desde que fosse pessoa honesta em suas conclusões, iria reconhecer que a judiaria russa radicalizada era uma bomba-relógio de contador sonoro (bip… bip… bip…) preparada para explodir a barragem do ódio judeu acumulado contra a Rússia, e essa acerba hostilidade antirrussa era compartilhada e apoiada raivosamente por judeus de outras partes do mundo. Marsha Rozenblit and Jonathan Karp observaram no seu World War I and the Jews (2017) que os judeus da Europa tinham esse grande conflito na conta de “guerra sagrada contra o inimigo bárbaro, maligno, rapinante, o inimigo da liberdade e da cultura, o inimigo tradicional dos judeus, um Amaleque moderno ansioso para atrocidar judeus na Rússia e na Galícia ocupada”.[9] Rozenblit e Karp escrevem que “principalmente para os judeus, a destruição desse inimigo era de máxima importância”.[10] Tudo isso corresponde perfeitamente com a explicação de Kevin MacDonald sobre o esquerdismo judeu. Este, segundo MacDonald, tem por base a autoconceituação do judeu como vítima, a extrema hostilidade dos judeus para com as estruturas de poder dos não judeus, a utilidade do esquerdismo como excelente ferramenta de poder para a derrubada das elites tradicionais e para a consolidação dos próprios judeus na posição superior de um poder hostil. Browning não fala de nada disso. Conforme Browning, a elite russa só considerava os judeus como potencialmente perigosos por uma questão de “paranoia”.

Nesta altura, eu deixei temporariamente Browning de lado e busquei encontrar o texto de Hanebrink. Para além do conteúdo, a mais óbvia depreciação de um trabalho desse tipo decorre de sua flagrante falta de originalidade. A monografia de Hanebrink consiste, essencialmente, num quase total plágio de um autor chamado André Gerrits, da Universidade de Leida,[11] que escreveu The Myth of Jewish Communism: A Historical Interpretation (2011), livro que é uma desgraceira só. O coitado do Gerrits não mereceu nem uma notinha de rodapé do malandro Hanebrink, que mexeu os pauzinhos na sempre filossemítica Universidade de Harvard, mobilizando os seus amigos judeus pela publicação do livro. No conselho editorial de Harvard, os judeus são mais de 40%. Desse jeitinho, Hanebrink conseguiu o que queria, até porque a venda do livro dependia menos de seu fraudulento conteúdo do que da lábia dos experimentados técnicos em mercatagem de Harvard. Para turvar ainda mais as águas, todo o variado contorcionismo lógico do próprio Browning segue o exemplo de inconfiáveis resenhistas judeus do trabalho de Gerrits como, por exemplo, um tal de Eliezer Ben-Rafael, da Universidade de Telavive. Ben-Rafael diz que o “mito do comunismo judeu” é mesmo um “mito” e que as histórias de Gerrits sobre o comunismo judeu e os comunistas judeus são “fascinantes”. O professor de Telavive faz ainda a vulgar afirmação de que o mito do comunismo judeu é só a combinação de dois preconceitos: o antissemitismo e o anticomunismo. Não obstante, Ben-Rafael fala do vínculo do “mito” com a realidade, dizendo que “muitos judeus tinham participação proeminente na agitiprope comunista não apenas na Rússia, mas também na Hungria e na Bavária (Revoluções de 1917), como ainda, depois da II Guerra, na Checoslováquia, na Romênia, na Lituânia, na Polônia e na Bulgária”. [12] Então, ficamos assim, caro leitor: os judeus não tinham nada a ver com o movimento revolucionário comunista, mas predominaram entre os seus maiores agitadores e propagandistas em vários países ao longo de décadas. Entendeu?

O texto de Paul Hanebrink é ativismo político tanto quanto corrupção historiográfica. Assim como  muitos outros autores filossemíticos, Hanebrink inventa a história de que a sua história não é só história mas, também, “advertência”. Como tal, o livro não começa com a I Guerra Mundial ou com os judeus na Rússia czarista, mas com Charlottesville. Hanebrink mostra-se preocupado com o conceito de comunismo judeu, porque acredita que ele não desapareceu e que ressurge agora não só na extrema direita, mas também no principalismo. Hanebrink não está sozinho. O historiador judeo-britânico Mark Mazower saudou o livro de Hanebrink em novembro de 2018, escrevendo no  Financial Times: “O livro de Paul Hanebrink é oportuno lembrete principalmente para os políticos republicanos quanto à tradição intelectual que favorecem ao se juntarem à coligação transatlântica de teóricos da conspiração que alegremente demoniza George Soros”. Dias antes, outra elogiosa resenha apareceu no New York Times, escrita pelo acadêmico judeu Samuel Moyn. Intitulada “The Alt-Right’s Favorite Meme is 100 Years Old”, o texto de Moyn argumentava que “Nada seria mais parecido com o disseminado discurso acerca do marxismo cultural do que uma versão do mito do comunismo judeu adaptada aos tempos atuais”. Em 16 de fevereiro de 2019, a [Editora] Jacobin publicou pequeno mas empolado trabalho de um casal de esquerdistas suecos intitulado “The Return of Judeo-Bolshevism.” O livro foi recebido de braços abertos pelos acadêmicos judeus e outros marxistas da mídia digital. Também mereceu acolhimento entusiástico do Britain’s Socialist Workers Party, organização remanescente do antigo Partido Comunista Britânico. O fato de o trabalho ser uma mão na roda para judeus e comunistas não deveria, em princípio, colocá-lo sob suspeita quanto à sua objetividade na análise do judeo-bolchevismo. Ocorre que num campo onde grassa o ativismo político, esse é um sinal de perigo que nos deve deixar alerta.

O aumento do apologismo relativo ao comunismo judeu não decorre de nenhum acaso. Verifica-se claramente que os judeus sentem-se perturbados pelo crescimento exponencial da discussão sobre o marxismo cultural nos últimos dez anos. O “marxismo cultural” não passa de um rótulo diferente para o “judeo-bolchevismo” ou “comunismo judeu”. Nenhum curioso precisará estudar por muito tempo o marxismo cultural para descobrir por trás dele o comunismo judeu em mil e um fatos. A discussão do marxismo cultural e a consciência que se tem dele estão em expansão. Quando figuras como Tucker Carlson e (por mais que eu não goste dele) Jordan Peterson discutem esse fenômeno, milhões assomam a patamares mais altos de conhecimento, de onde avistam paisagens históricas que a censura antes toldava ou distorcia, como a Escola de Francforte, os Massacres de Bela Kun, o Holodomor… Nem todo o mundo chegará a esse nível mais elevado de percepção, mas muitos consegui-lo-ão, e isso faz que aqueles empenhados no controle das narrativas percam o sono. Dessa forma, fica claramente entendida a razão de o estabilismo colocar a sua máquina em movimento, produzindo material destinado a distanciar os judeus do marxismo, e especialmente de qualquer ideia de que haja fortes vínculos históricos entre ambos.

Na introdução de seu livro, Hanebrink ataca os nacionalistas dos Estados Unidos e da Europa, pelas acusações que fazem aos “comunistas judeus” de promoverem a homossexualidade e o multiculturalismo em seus países. Ora, os judeus ocupam explicitamente a posição de capitães da indústria dos migrantes e refugiados e escrevem abertamente sobre o destacado papel que desempenham à frente das campanhas de promoção do homossexualismo. Muito recentemente, aliás, quando o cabecilha de um agrupamento de antifas de Washington (DC) foi desmascarado pelo Daily Caller, não houve muita surpresa no fato de que se tratava do judeu Joseph Alcoff. A mãe desse sujeito é a ativista acadêmica Linda Alcoff, que milita na área de “estudos” que os racistas antibrancos chamam de “Problemas da Branquitude”. Certa feita essa “professora” escreveu texto intitulado “A questão branca”, mas depois apagou tudo (o feio trabalho de Linda está salvo aqui). O seu filho fanático e doente mental Joseph Alcoff foi preso poucas semanas atrás, depois de atacar um casal de militonautas latinos. Durante a agressão, o judeu gritava “Nazistas!” e “Supremacistas brancos!”.

O fato de muita gente estar hoje preocupada com o comunismo judeu por causa do que fazem judeus comunistas como Alcoff, buscando cumprir sua agenda, não consta em nenhuma das “ponderações” de Hanebrink. Ao contrário, o comunismo judeu é apresentado como se fora, mais ou menos, uma embustice do passado e do presente. O problema com a tese de Hanebrink é que não há prova dela em nenhum lugar, nem sequer uma tentativa de prova. Não obstante, o seu autor vangloria-se de haver vencido o “mito” do comunismo judeu. Na página 5, Hanebrink escreve o seguinte:

Acadêmicos, políticos progressistas e membros da comunidade judaica têm impugnado inúmeras vezes a alegação de que “os judeus são responsáveis pelo comunismo”. De forma convincente e com autoridade, eles mostraram que o mito do comunismo judeu não passa de constructo ideológico.

Mas Hanebrink não refere nenhum texto com essas tais “impugnações” tão ubíquas, convincentes e autorizadas. Por quê? Porque isso não existe! O verdadeiro mito é o mito que diz que “o mito do comunismo judeu foi refutado”. E nessa falsa conclusão Hanebrink baseia todo o seu trabalho. Na mesma página 5, o malandro continua: “Em vista de toda essa história, o objetivo do estudo do judeo-bolchevismo não deve ser o de determinar quão verdadeiro ele é”. Inacreditável! O cara teve a coragem de escrever isso! Eu precisei ler umas três vezes essas palavras para confiar em meus olhos. E a editora universitária responsável pela publicação de uma coisa dessas goza a reputação de figurar entre as melhores do mundo, o que também é espantoso.

Assim como Browning, Hanebrink não se dá muito bem com estatísticas, ele tem medo delas. Ele fica nervoso ao ter que admitir a super-representação de judeus no Partido Comunista Polonês, que podia chegar a 40%. Então ele produz a pérola de que estatística é coisa aborrecida, estéril, e tergiversa, mudando de assunto. Curiosamente e por causa disso, Hanebrink sempre usa palavras como super-representação ou sobrerrepresentação entre aspas. Ele parece achar que as aspas possam mudar a realidade dos números, que possam alterar os dados estatísticos mostrando a sobrerrepresentação de judeus em movimentos de subversão, posições sociais privilegiadas e negócios fraudulentos. A situação fica ainda mais feia quando ele tenta combater a ideia do comunismo judeu argumentando, de forma pedante, que “metade dos dirigentes mencheviques era de judeus em 1917”, o que não terá dado muita consolação ao czar. A análise de Hanebrink tem ainda o triste problema de ser superficial. Por exemplo, ele escreve que “todos os judeus que abraçavam o comunismo rompiam com o meio social de seus avós”. Ora, tal afirmação não corresponde aos dados estatísticos. Os números dizem que eram criados novos círculos judeus ligados ao comunismo. Como [Kevin] MacDonald mostra, a identidade judia permanecia forte entre os comunistas judeus e outras cepas de esquerdistas. Topando com sobrerrepresentações de judeus aqui e ali, nisto e naquilo, Hanebrink saiu-se com esta outra pérola: “Salvo raras exceções, as generalizações não servem para nada”. É, né? Ah, tá.

Não há nenhuma discussão sobre a etnicidade judia em nenhuma parte do texto, e nisso reside uma das mais negativas manobras do autor ou, na perspectiva dele, uma das mais positivas, como assim a apresenta, o que nada tem de surpreendente. Já bem no começo de seu livro (p.5), Hanebrink diz que a consideração da etnicidade judia entre os comunistas “requer dos historiadores que imponham rígidas categorias étnicas em homens e mulheres cujo autoconceito sempre foi mais complexo e multifacetado”. Não, não é verdade. A maioria dos historiadores que estudam o judaísmo sabe das várias formas de “ser judeu” que não decorrem de nenhuma categorização inadequada, senão que da simples observação do comportamento, da filiação e associação étnicas. Hanebrink esconde-se na correção política, aí buscando um tipo de pretexto multiculturalista para não tratar do tópico explosivo da etnicidade judia no comunismo, questão que deveria estar no coração de qualquer tese versando acerca do judeo-bolchevismo. “Eu não quero rotular essas pessoas”, diz Hanebrink, omitindo o motivo disso. A verdade é que, se Hanebrink rotulasse “essas pessoas”, sua tese estaria condenada pelos judeus, que ainda poderiam sujeitar o seu autor à “crucificação”.

Outro ótimo exemplo das distorções no texto de Hanebrink está na discussão que faz de Bela Kun. Hanebrink alega (p. 25) que não existe “absolutamente nada de relevante” na formação judaica de Kun, mas em outra passagem (p. 16) nota que, dos 47 comissários do povo reunidos por Kun no regime soviético húngaro de 1919, trinta eram seus patrícios judeus. Percebendo claramente que à sua argumentação faltava poder de convencimento, Hanebrink volta a tergiversar, saindo-se com a seguinte declaração: “A verdadeira compreensão das esperanças, dos medos, das motivações de qualquer revolucionário judeu na sua irredutível complexidade é tarefa que, em última análise, cabe mais propriamente a um biógrafo” (p. 25). Eis aí outra capitulação do autor na questão da identidade étnica judia — tema de que Hanebrink não trata por despreparo e má vontade. Sua relutância chega a transpor as raias do ridículo. Tome-se o exemplo da seguinte passagem (p. 25):

Esses homens e mulheres foram atraídos para o bolchevismo pelas mesmas razões pelas quais tantos outros judeus no Império Russo e na Europa toda aderiram ao sionismo ou ao nacionalismo assimilacionista. Eles buscavam escapar das limitações das comunidades tradicionais, abraçar as oportunidades sociais e culturais que lhes oferecia a modernidade, eles queriam, enfim, fazer parte do movimento histórico.

Simplesmente, espantoso! Como é que um cara metido a ser um acadêmico sério dá para discutir o apoio ao sionismo sem mencionar a identidade judia, a etnicidade judia, a percepção dos interesses judeus?! Na curiosa leitura de Hanebrink, os judeus esposaram o sionismo para que fossem “parte do movimento da história”. Isso põe em evidência o fracasso total do livro em abordar a questão da identidade judia de forma minimamente crítica.

Ligada a essa desarrazoada interpretação está a insistência de Hanebrink em limitar ao máximo a extensão do conceito de judeo-bolchevismo, para excluir os judeus de tal conceito. Foi por isso que ele disse que metade dos chefes mencheviques compunha-se de judeus, com isso pretendendo argumentar contra a ideia do judeo-bolchevismo, pois os mencheviques e os bolcheviques eram ferozes rivais. Essa minúcia da história sobre a composição judaica da direção dos mencheviquistas é questiúncula de que alguém trataria só por pedantismo e mistificação. Esse alguém, no caso, é Hanebrink. Ao referir os judeus menchevistas, Hanebrink ocupa-se da árvore para ocultar a floresta. Hanebrink, certamente, não iria ignorar que a expressão “Judeo-bolchevismo” era uma palavra-ônibus onde cabiam todas as variantes da subversão esquerdista judia, especialmente o comunismo judeu como um todo. A floresta que esse autor pretende manter obscura é a massiva participação judia no bolcheviquismo e a ascensão dos judeus à condição de elite hostil após o sucesso da Revolução Bolchevista. Hanebrink define o judeo-bolchevique (p. 8) como “fanático etnoideológico, um transgressor destrutivo empenhado em mobilizar os judeus locais e outros grupos descontentes para subverter a ordem social e moral”. Uma excelente definição, só que nela cabem os mencheviques judeus, os socialistas judeus, os progressistas e quejandos. Em suma, a verdade é que os judeus postavam-se como firmes defensores e partidários do comunismo durante a Segunda Guerra Mundial, no maximante da propaganda contra o judeo-bolchevismo. Essa não é  uma opinião controversa, trata-se antes de fato revelado pelo historiador judeu Dov Levin no seu Baltic Jews Under the Soviets, 1940–1946 (1994), como também em The Lesser of Two Evils: Eastern European Jewry Under Soviet Rule, 1939–1941 (1995), e ainda por outros historiadores numa série de trabalhos acadêmicos. Com efeito, os judeus dominaram os governos comunistas por toda a Europa Oriental depois da Segunda Guerra Mundial.

Talvez, a única coisa de algum valor no livro esteja no Capítulo 6, dizendo respeito à mudança da compreensão ocidental do judeo-bolchevismo para a metáfora de civilização “judaico-cristã”. Esta é, na opinião de Hanebrink, desta vez correta, um moderno constructo sociológico com a finalidade principal de fazer brilhar na cabeça dos judeus americanos a “aura da universalidade” (p. 224), promovendo-se a imagem pró-sionista de suposta “comunidade transatlântica de valores”, unida para dar combate ao islamismo (p. 281). Isso aí é parte de transformação maior havida no século XX, quando a Questão Judaica desapareceu do discurso dominante no Ocidente para dar lugar à “Questão da branquitude” e, mais recentemente, à “Questão do Islamismo”. Considero esse desenvolvimento um dos mais cruciais do século XX, o qual reclama ainda maior explicação, documentação e análise. Escusado será dizer que Hanebrink não nos oferece nada disso, mas me repugna tanto a terminologia de uma fictícia civilização judaico-cristã e essa falseta completa de haver interesses comuns judaico-cristãos, que qualquer referência negativa a toda essa patranha tem a minha aprovação. Assim dou pequenina recompensa ao autor de um trabalho que, em tudo o mais, é realmente horrível.

Em última análise, o livro de Paul Hanebrink em comento, A Specter Haunting Europe, é extremamente estranho, ainda assim representa tipicamente a literatura contemporânea sobre a história judia. Ele promete muito, mas não entrega quase nada. Suas omissões são notáveis; sua insinceridade, profunda; seu filossemitismo, enjoativo. Curiosamente, não há no texto nenhuma expressão de segurança intelectual da parte de seu autor. Presumidamente não sendo um judeu, Hanebrink sabe muito bem, com certeza, que o seu texto não passa de chocante apologia dos judeus. As razões pelas quais um acadêmico branco chega ao ponto de produzir uma coisa dessas não são de difícil dedução. Como no caso de Christopher Browning, tais serviços são fortemente incentivados por tentadora recompensa. A despeito da falta de originalidade, da estreiteza da base factual e da fraqueza da análise, Hanebrink, professor associado de História da Universidade Rutgers, escreveu um livro publicado por prestigiada editora acadêmica (talvez a mais prestigiada de todas), pelo que mereceu os maiores louvores de grandes órgãos da mídia dominante. A mensagem desses nossos comissários soviéticos tardios é a seguinte: “Vendam-se a nós pelo preço da fama!”. Christopher Browning e Paul Hanebrink não resistiram Eles aceitaram a proposta indecente.


[1] LANGMUIR, Gavin. History, religion and antisemitism. Los Angeles: University of California Press, 1990. p.15.

[2] Ibid, 13.

[3] Ibid, 275.

[4] Ibid, 19 & 67.

[5] Ibid, 265.

[6] MURRAS, Michael. Vichy France and the jews. Stanford: Stanford University Press, 1981. p. 183.

[7] ROODHOUSE, Mark. Black market Britain, 1939-1955.Oxford: Oxford University Press, 2013. p. 159.

[8] Ibid, p. 234.

[9] ROZENBLIT, Marsha; KARP, Jonathan. World War I and the jews: conflict and transformation in Europe, the Middle East and America. New York: Berghahn. p. 36.

[10] Ibid, p.37.

[11] GERRITS, André. The myth of jewish communism: a historical interpretation. Brussels: PIE Peter Lang, 2009.

[12] BEN-RAFAEL, Eliezer. André Gerrits. The myth of jewish communism: a historical interpretation. International Sociology Review of Books, v. 26, n. 2, p. 260-263.

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Fonte: The Occidental Observer. Autor: Andrew Joyce. Título original: Lying about judeo-bolshevism. Data de publicação: 2 de março de 2019. Versão brasilesa: Chauke Stephan Filho.

 

2 replies
  1. Philip Power
    Philip Power says:

    (Mod. Note: This post, as well as several others recently, is WAY TOO LONG. Please don’t do this! Comments at TOO are not for putting out a “Unified Field Theory of Everything”, all in one place. STAY on topic of article, and KEEP it concise and short!)

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